BRASÍLIA – Após firmar acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República, o lobista Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené, acusou o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), de receber pessoalmente propina de executivos da empresa Caoa, representante da Hyundai no Brasil, no período em que foi ministro do Desenvolvimento. Segundo o lobista, entre valores repassados direta e indiretamente pelos executivos da montadora, Pimentel foi destinatário de R$ 20 milhões. A informação foi divulgada pelo jornal ?O Estado de S. Paulo?.
O acordo de delação foi homologado pelo ministro Herman Benjamin, relator da Operação Acrônimo no Superior Tribunal de Justiça. Com a homologação, Bené, que está preso, será autorizado a voltar para casa, dentro de no máximo dois meses, com tornozeleira eletrônica.
Pelas informações de Bené, pelo menos R$ 7 milhões foram pagos a Pimentel no exterior. Segunda-feira, O GLOBO revelou que, após acordo de delação, Bené acusou executivos da Caoa de repassar dinheiro a Pimentel em retribuição a benefícios recebidos pela montadora. As acusações complicam a situação do governador. Pimentel já foi denunciado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pela vice-procuradora-geral Ela Wiecko em processo no STJ. Agora, a denúncia deverá ser ampliada.
Como parte da delação premiada, o lobista também entregou documentos para comprovar as acusações que fez contra Pimentel e contra Carlos Alberto de Oliveira Andrade e Antônio dos Santos Maciel, os dois principais executivos da Caoa.
DENÚNCIA CONFIRMADA
Em linhas gerais, Bené confirmou o conteúdo da denúncia formulada por Ela Wiecko e apontou irregularidades em negócios financiados pelo BNDES na Argentina e em Moçambique, que teria Pimentel entre os beneficiários. O lobista confirmou crimes que teriam sido cometidos na campanha de Pimentel ao governo de Minas, em 2014.
Na denúncia apresentada ao STJ, a partir de um relatório da PF, Ela Wiecko acusa Pimentel de receber R$ 2 milhões em propina de Andrade e Maciel. O dinheiro teria chegado ao governador após passar pela Bridge e pela Bro, duas empresas de Oliveira. A transação teria sido camuflada num contrato de consultoria fictícia entre Bené e os executivos da Caoa.
Na denúncia, Ela Wiecko sustenta que, no mesmo período do pagamento da suposta propina, a Caoa recebeu cerca de R$ 600 milhões em benefícios fiscais do Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores (Inovar), do Ministério do Desenvolvimento. As vantagens estavam vinculadas a uma planta industrial da Caoa em Anápolis (GO). Bené confirmou a denúncia e acrescentou detalhes do esquema.
Pelas contas do empresário, os desembolsos da Caoa em troca de benefícios foram superiores a R$ 10 milhões. Investigadores querem saber agora para onde foi o dinheiro. Até então, só era conhecido o destino de R$ 2 milhões. Bené também confirmou que a consultoria que ele teria fornecido à Coa era ?fajuta?.