FLORIANÓPOLIS – A Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, analisa recorrer à Justiça para recuperar recursos perdidos em investimentos irregulares, como os que foram investigados na operação Greenfield e na CPI dos Fundos de Pensão.
? É um caminho a ser tomado. Isso está sendo analisado por todos os meios legais que estejam à nossa disposição – afirmou Walter Mendes, novo presidente da fundação, que tomou posse em meados de agosto e foi habilitado pela reguladora Previc na sexta-feira passada.
Em 2015, a Petros registrou déficit de R$ 16,1 bilhões (dados ainda preliminares, segundo Mendes) e vai precisar apresentar um plano de equacionamento até o fim do ano.
Segundo Mendes, a Greenfield não vai gerar qualquer mudança na gestão da Petros, uma vez que as casos já vinham sendo apurados internamente tanto pela fundação quanto pela patrocinadora. Ele lembrou que a Petrobras e a própria Petros mantém um trabalho interno de análise e investigação desses e de vários outros investimentos. O comitê de investigação interno da Petrobras, que tem o fundo de pensão como uma de suas linhas de apuração, é conduzido pela TRW e a pela Ernst & Young.
? Esses trabalhos são feitos justamente para entender o que foi feito e tomar como exemplo e instrumentos para fortalecermos o processo de governança da fundação, e também para saber o que efetivamente foi feito ? acrescentou Mendes, que esteve no congresso da Abrapp, associação do setor de previdência complementar, em Florianópolis. ? Nada mudou ou vai mudar por causa da Greenfield. Nada disso, para nós, gerou qualquer tipo de trabalho adicional. Nosso papel hoje é prestar todas as informações com o máximo de transparência.
De acordo com o presidente, a Petros promoveu uma grande mudança em sua governança interna em março do ano passado, pouco depois de Aldemir Bendine assumir a presidência da Petrobras (hoje, o atual presidente da estatal já é Pedro Parente, nomeado pelo presidente Michel Temer no fim de maio deste ano).
? Esses investimentos que são objeto de análise foram feitas antes de 2011, são investimentos feitos no passado. Tanto a diretoria que entrou em março passado, e agora com a minha vinda, não tem nenhuma relação com eles. Os dados todos estavam disponíveis ? ponderou.
Mendes não quis discutir as conclusões da investigação interna, que está em curso e não tem data para terminar, mas afirmou que “essas análises geram iniciativas dentro da Petros”. De acordo com ele, foi criada uma área de risco e conformidade no fundo de pensão e foram melhorados os processos de governança. Além disso, a Petros parou de apostar em investimentos estruturados como os Fundos de Investimento em Participação (FIPs), alvo da Greenfield.
? Desde março de 2015, nenhum investimento desse tipo foi feito. Além disso, todo recursos novo que surgiu nesse período foi aplicado em títulos públicos federais ? disse.
Agora, o novo presidente afirma que quer “dinamizar a gestão de investimentos da Petros, que ficou muito conservadora e parada nesse período porque existia uma cautela”. O objetivo é ter uma gestão mais ativa das aplicações, adaptando as carteiras às mudanças de mercado de forma mais rápida.
PRESIDENTE DEFENDE FIM DA INTERFERÊNCIA POLÍTICA
Mendes não quis discutir a atual situação de Sete Brasil e Invepar, duas empresas em dificuldade nas quais a Petros tem investimento, porque as aplicações estão sendo investigadas pela Greenfield. Perguntado sobre a necessidade de novos aportes nessas empresas, Mendes disse que o fundo “vai analisar caso a caso”:
? Nós vamos avaliar caso a caso com muito cuidado. No fundo, não podemos prejudicar os participantes. Então temos que analisar o que pode ser ou não pode ser feito.
De acordo com o presidente da Petros, embora operações como a Greenfield sejam “muito desagradáveis no momento que acontecem”, elas são importantes no longo prazo para “separar o joio do trigo” e evitar generalizações na indústria de fundos de pensão. Mendes defendeu o fim da interferência política e a profissionalização da gestão de fundos como o caminho para evitar novos problemas no futuro:
? Como está se evitando na gestão da Petrobras, precisamos evitar qualquer interferência política. Todos os projetos, como os de governança das estatais da Bolsa e os projetos de lei sobre fundos de pensão no Congresso, tem uma coisa em comum, que é justamente evitar a interferência política. Existe um sentimento da população de que essa interferência atrapalhou a gestão.
FUNDOS SEM ?OBRIGAÇÃO DE FINANCIAR INFRAESTRUTURA?
Walter Mendes disse que não sabe ainda se a Petros vai participar de algum projeto de infraestrutura da nova leva de concessões do governo federal. Mas ressaltou que os fundos não tem a obrigação de aplicar nesse tipo de projeto.
? Não sei. Tem que olhar o que vai aparecer, nada disso veio ainda. O objetivo dos fundos de pensão não é viabilizar o investimento em infraestrutura do país. Seu objetivo é ter uma rentabilidade adequada, garantir a aposentadoria dos participantes. O critério que deve ser usado não é se isso é importante ou não para o país, mas se isso é rentável ou não para o fundo. Os fundos de pensão não tem a obrigação de garantir funding para projetos de infraestrutura
(*O repórter viajou a convite da Abrapp)