Cotidiano

Pesquisadores monitoram tartarugas marinhas verdes no Litoral do Estado

Com o objetivo de obter informações para a preservação de tartarugas verdes marinhas no Paraná, pesquisadores do Centro de Estudos do Mar (CEM) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) fazem trabalhos de pesquisas com os animais no Litoral. Nesta semana, de 17 a 23 de fevereiro, os profissionais executaram a quarta etapa de captura intencional das tartarugas no Litoral do Estado. 

A captura desses animais conta com o apoio do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e da Polícia Ambiental. “Para nós é muito importante acompanhar esse trabalho. Com base nas informações coletadas poderemos propor legislações preventivas de proteção à espécie ameaçada de extinção sem prejudicar demais atividades desenvolvidas no Litoral”, explica a diretora de Licenciamentos Especiais do IAP, Edilaine Vieira. “Com os dados que serão levantados aqui será possível melhorar as nossas ações de prevenção e fiscalização”, disse. 

Essa espécie nasce em diversas ilhas no mundo e segue para a orla paranaense para se alimentar, na grande maioria das vezes, entre seus dois e oito anos de idade. Por isso, a pesquisa pretende mapear as áreas de deslocamento das tartarugas marinhas verdes juvenis e contribuir para a proteção das tartarugas marinhas. 

“Essas tartarugas passam por diferentes regiões do Oceano Atlântico e, quando juvenis, se agregam e se alimentam no Litoral do Paraná, em zona costeira do Brasil e da Argentina. Quanto mais a gente souber, maiores as chances de termos uma legislação que não vai ser tão restritiva para o pescador, mantendo as questões sociais e econômicas e, ao mesmo tempo, que proteja efetivamente as tartarugas”, explica a coordenadora do Laboratório de Ecologia e Conservação do CEM, Camila Domit. 

O projeto “ProTarta – Ações integradas em prol da conservação das tartarugas marinhas no Paraná” é uma ação conjunta entre a UFPR e a Associação Mar Brasil e conta com recursos do projeto Rebimar, financiado pela Petrobrás. 

PESQUISA – O trabalho dos pesquisadores começa cedo no mar, às 6h da manhã, quando são instaladas redes específicas no entorno das ilhas. Quando são capturados nas redes, os animais são levados com cuidado até um barco de apoio onde ficam por cerca de duas horas, enquanto são coletados diversos dados. 

Com os cuidados necessários para causar o mínimo estresse aos animais, os pesquisadores avaliam seu estado de saúde, medem, pesam, coletam amostras de pele, sangue, crustáceos hospedados nas carapaças (cascos) e outros dados importantes para informações genéticas e da história de vida das tartarugas. 

Quando estão em boas condições de saúde, são instalados transmissores nas carapaças das tartarugas que, além dos dados coletados, fornecerão informações sobre o deslocamento, localização e a temperatura das águas por onde esses animais passam. 

“O transmissor nos dá informações importantes para manejo, ou seja, nós sabemos exatamente onde as tartarugas ficam mais tempo. Então, eu posso pensar em áreas restritas para a pesca em vez de toda uma área ou uma baía. Posso criar uma área de corredor biológico com um grau maior de proteção, sem prejudicar a pesca”, explica Camila. 

Desde 2014, quando iniciou o projeto, os pesquisadores já conseguiram catalogar e marcar mais de 100 tartarugas no nosso Litoral paranaense. Destas, 10 receberam transmissores. Esse é o trabalho do gênero que mais instalou transmissores na espécie no Atlântico Sul, de acordo com a pesquisadora. 

Em um dos casos, os pesquisadores já conseguiram coletar informações de uma tartaruga que foi taggeada no Paraná e mandou sinal por satélite quatro semanas depois em Ilhéus, na Bahia, ou seja, a mais de 2,8 mil quilômetros do ponto em que começou a ser acompanhada. 

SAÚDE – Os pesquisadores coletaram informações de 11 tartarugas vivas capturadas – oito delas estavam doentes. As tartarugas apresentam uma doença chamada fibropapilomatose, um vírus característico que provoca o surgimento de tumores (uma espécie de herpes) nos animais. A doença não é transmissível para o homem, mas pode passar de uma tartaruga para outra. 

De acordo com os pesquisadores, a doença é crescente em todo o mundo e causada pelo estresse do animal. No Paraná, em 2014, 23% dos animais capturados apresentavam a doença. Hoje esse registro subiu para mais de 60% dos animais capturados. 

A doença está associada a fatores relacionados à qualidade da água nos oceanos, ou seja, lixo, lançamento de esgoto clandestino nos rios e mares e demais atividades antrópicas (do homem) em todo o mundo. 

“Nós estamos acompanhando as pesquisas relacionadas ao fato e temos aumentado o controle sobre as atividades licenciadas em todo o Estado, mas precisamos que as pessoas também tenham a consciência de que o ato delas, onde quer que estejam, pode prejudicar todo um sistema. O lixo e o esgoto sanitário quando despejados irregularmente com certeza irão causar danos em todo lugar”, afirmou Edilaine. 

Não se sabe ao certo por quanto tempo as tartarugas afetadas podem sobreviver. Muitos desses tumores podem sumir com o tempo, mas também podem afetar a visão e outros sentidos dos animais, o que dificulta a busca por alimentos e a proteção de predadores. 

“Existem alguns relatos de redução desses tumores, conforme o animal melhora o seu sistema imunológico. Houve algumas tentativas de retiradas desses tumores, mas em geral, quando o animal ainda não está com o sistema imunológico bom, esses tumores podem voltar”, explica Camila. 

Uma nova etapa de captura das tartarugas marinhas verdes está programada entre 21 e 24 de março desse ano.