Santa Helena Eles nos venderam uma grande ilusão e estamos revoltados com tamanho descaso. O desabafo é do presidente da Colônia de Pescadores Nossa Senhora dos Navegantes, de Santa Helena, Lírio Hoffmann, ao comentar o abandono do governo federal a centenas de pescadores que fariam parte de um dos mais ambiciosos projetos de criação de peixes em sistema tanque-rede do Brasil. O programa que liberava braços do lago de Itaipu à criação de tilápias em escala comercial foi anunciado com pompa, em abril de 2015, pelo então ministro da Pesca e Aquicultura, Hélder Barbalho.
O anúncio do projeto foi feito em conjunto com o Ibama e o IAP e previa, além da autorização ambiental, a liberação de linha de crédito para permitir a compra dos equipamentos pelos pescadores interessados em dar um salto em sua atividade. Está tudo no papel. Nada do que prometeram aconteceu e os pescadores estão, hoje, em situação ainda pior do que na época. A frustração e a espera infrutífera provocam feridas imensas, lamenta Lírio, que representa 63 dos cerca de 700 pescadores profissionais que sobrevivem da atividade apenas na região compreendida pelo reservatório de Itaipu e afluentes.
Problemas
O acesso às informações sobre a demora na liberação do crédito é difícil e quando chegam são pouco precisas. Não sabemos ao certo onde está o problema, mas ele existe, diz Lírio. Uma das suspeitas é de que o acordo sobre a autorização de criação de tilápias no reservatório, por se tratar de um peixe que não pertence à bacia e tem característica predatória, não estava bem amarrado entre Ibama e IAP. Um dos debates era de autorizar apenas a engorda de machos, porque se escapassem dos tanques não reproduziriam e não ameaçariam demais as outras espécies, segundo o pescador.
Politicagem
Há muitos anos os pescadores pedem a liberação da criação da tilápia em tanques às margens do lago de Itaipu. Os empecilhos são diversos e enquanto isso os profissionais estão sujeitos às mais diferentes manobras políticas, afirma Lírio. Uma das que mais emperraram o programa teria sido a recusa do Paraguai, recentemente superada, em autorizar a criação de um peixe não nativo comercialmente na represa. Por outro lado, são inúmeros os relatos de pescadores e de técnicos de que a tilápia já é facilmente encontrada no reservatório, livremente.
A Itaipu, preocupada com a questão social dos pescadores, desenvolveu há muitos anos uma alternativa de renda às famílias extrativistas. A ideia era a criação em tanques do pacu, que é da bacia. No entanto, o volume de conversão da ração em carne é pífio diante dos ganhos que a tilápia proporciona e os resultados não atraíram o interesse dos profissionais. O abandono, segundo Lírio Hoffmann, pode ser medido por outra situação. Nem o material e a estrutura necessária para a renovação das carteiras de pesca profissional o governo federal tem oferecido. Diante disso, todos estamos com documentos vencidos, portanto irregulares.