Cotidiano

Pela 1ª vez em dez anos, exportações têm queda

Entre os fatores que contribuíram está a paralisação dos caminhoneiros

Toledo – A greve dos caminhoneiros, nos últimos dez dias de maio, e alguns fatores relacionados a mercado causaram reflexos negativos na balança comercial da região oeste do Paraná. Pela primeira veze em dez anos o acumulado de exportações para o mês registrou queda.

As exportações regionais em maio de 2017 ultrapassaram US$ 179,5 milhões. Neste ano, somaram pouco menos de US$ 140,5 milhões, retração de US$ 39 milhões, ou seja, 22%.

Dentre os principais exportadores há retração nas vendas em Medianeira, Marechal Cândido Rondon e Maripá, mas a principal queda aconteceu em Toledo, onde as exportações despencaram. “O desempenho com relação à greve já pode ser sentido porque por alguns dias não houve embarcação dos navios no porto e assim não há faturamento. As cargas não chegavam e certamente esses reflexos ainda serão sentidos por mais algum tempo”, explica o agrônomo e especialista de mercado José Augusto de Souza.

Contudo, a retração de Toledo chama a atenção em um aspecto bastante peculiar e que deverá ser questionado por entidades ligadas ao agronegócio ao Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio Exterior e Serviços), responsável pela publicação dos dados da balança. Pela primeira vez desde o início da série histórica, ainda na década de 1990, o Município aparece sem um grão de soja exportada. Assim, no total dos cinco meses, a queda chega a quase US$ 50 milhões. “Acompanho sempre os dados e confesso que essa situação me pegou de surpresa. Nunca havia identificado uma situação dessas e isso causará um forte impacto nos cofres do Município, pois não haverá retorno do ICMS sobre esse produto, se de fato ele deixou de ser exportado”, segue Souza, que é de Toledo.

“Estranheza”

Os números de Toledo também causaram “estranheza” no Sindicato Rural local, que acredita que haja faturamentos ao exterior feitos no Município quanto à soja, mesmo triturada, por pelo menos três indústrias. De certo, apenas há informação de que a Coamo, onde está associada a maior parte dos sojicultores locais, agora fatura por Campo Mourão, onde está a sede da cooperativa.

Uma das possibilidades aventadas é o uso da soja para a produção de ração animal, uma vez que Toledo se tornou um grande polo desse tipo de processamento, mas o volume deixa dúvidas: ano passado foram exportados em cinco meses quase 137 mil toneladas. “Outro aspecto seria a utilização da soja pelo mercado interno, mas isso também é difícil devido ao alto volume”, segue o agrônomo.

Saldo da balança registra novo aumento

Apesar do recuo nas exportações, se analisados os mercados separadamente, municípios como Palotina, Cascavel, Cafelândia e Matelândia – os líderes regionais – conseguiram aumentar suas vendas mesmo com a paralisação dos transportes por dez dias. Isso graças ao bom desempenho registrado antes do período da greve.

Assim, as transações internacionais no acumulado do ano para o oeste também fechou em queda se comparado a igual período de 2017 (janeiro a maio), mas a retração foi de apenas 1%, queda no faturamento de US$ 6 milhões. Nos cinco primeiros meses do ano foram faturados US$ 681 milhões para o exterior.

As importações, que já vinham em queda livre há meses devido à crise, tiveram mais um recuou bastante expressivo de 22%. Reduziram de US$ 273 milhões para US$ 212,3 milhões. Assim, apesar das exportações mais tímidas e da retração das importações, o saldo da balança no oeste registrou elevação de 13%. De janeiro a maio de 2017, o superávit somou US$ 414,4 milhões e, agora, US$ 469,4 milhões.

Cooperativa acredita em recuperação das vendas em junho

Para o diretor-presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, os números referentes às exportações deverão ser revertidos neste mês de junho com o mercado novamente aquecido. Assim, em sua avaliação, a balança tende a fechar com aumento no acumulado das vendas internacionais, mais uma vez. “Pelo que temos conhecimento, não foram rompidos contratos com nenhum comprador internacional em decorrência da greve. Os compradores foram bastante compreensivos. Claro que as despesas ficaram, mas temos certeza de que elas serão recuperadas neste mês de junho”, frisou.

Mas um panorama preciso dos efeitos e dos prejuízos deixados pela paralisação sobre a economia ainda não são possíveis de serem calculados e Dilvo também reconhece que os efeitos estão muito presentes na economia regional. No agronegócio, eles deverão se estender pelo menos até julho, quando deverá haver menor quantidade de aves para abate, uma vez que muitos avicultores não conseguiram alojar durante os dez dias de greve porque os pintainhos não chegavam às granjas e faltou ração para os que chegaram. “Vamos ter menos aves para abater no mês que vem, mas a tendência é de que esses aspectos sejam recuperados ao longo do ano. É evidente que as perdas não serão recuperadas, como as máquinas paradas, a folha de pagamento de trabalhadores que foram dispensados durante a greve”, reforça.

A grande promessa para recuperação das exportações na região está calcada no tipo de produto comercializado. Por aqui, mais de 70% das vendas ao mercado internacional correspondem às carnes, sobretudo de aves. A venda de grãos, por sua vez, deve se manter em retração em junho, a exemplo do que ocorreu em maio.

Transporte

Neste início de mês, o que tem pesado nas embarcações a granel é a tabela do preço mínimo do frete, amplamente criticada pelo setor, com valores que, segundo o segmento, são impraticáveis e que estão impactando em um aumento de mais de 55% no transporte da soja e do milho rumo ao Porto de Paranaguá. A tonelada que antes custava de R$ 110 a R$ 120 para chegar até os navios, agora está na casa dos R$ 170 e R$ 180 para quem carrega na região oeste. A expectativa é de que o governo federal reveja a tabela e as cargas voltem para a estrada nos próximos dias, apesar de rumores de que uma nova paralisação poderia ocorrer se a tabela for corrigida para menos.

Vale ressaltar que esse tipo de transporte está travado na região desde que a resolução foi publicada, em 30 de maio. Já as cargas frigorificadas, que levam as carnes, estão rodando normalmente.