PRETÓRIA – O Congresso Nacional Africano (CNA), o partido no poder na África do Sul, viveu neste sábado um revés histórico nas eleições municipais ao perder na capital, Pretória, frente ao principal partido da oposição, a Aliança Democrática (DA), segundo os resultados parciais difundidos pela Comissão Eleitoral.
Com 99% dos votos contados, o CNA tem a maioria dos votos, mas não venceu em muitas cidades importantes. Das grandes cidades do país, a principal vitória do governo foi em Joanesburgo, que segue com bons resultados econômicos. Além de Pretória, o partido não conseguiu maioria em Nelson Mandela Bay, municipalidade que inclui a área industrial de Port Elizabeth.
Os resultados mudaram o mapa político na África do Sul. o CNA governava sem oposição forte desde 1994, quando, liderado por Nelson Mandela, assumiu o poder numa avalanche nas urnas com o fim do apartheid.
Agora, com o avanço do desemprego, uma economia estagnada e escândalos em sequencia em torno do presidente Jacob Zuma, eleitores parecem ter decidido punir o CNA, mudando o panorama para as eleições nacionais de 2019 e dando força aos rivais de Zuma no partido, que devem desafiá-lo.
Eleições parlamentaristas
Assim como no nível federal, as eleições municipais sul-africanas são parlamentaristas. O CNA não foi derrotado, inclusive conseguiu o maior número na maioria das cidades. Nenhum dos partidos deve conquistar maioria nesses centros urbanos, o que abre caminho para uma nova era de coalizões políticas. Isso não ocorria há décadas no país.
O CNA diz que vai tentar formar coalizões, já que teve mais votos, mesmo sem maiorias. Entretanto, as eleições são um marco na política pós-apartheid do país e da oposição. O DA tenta mudar sua imagem de representante dos interesses dos brancos. Ano passado elegeu seu primeiro líder branco, Mmusi Maimane. O partido manteve o governo da Cidade do Cabo, que governa desde 2006.
“É um sinal para todos que a maré no nosso país está virando”, disse Maimame para a imprensa neste sábado.
Desgoverno?
O CNA perdeu suporte entre eleitores que sentem que suas vidas não melhoraram nos últimos anos. A oposição acusa Zuma de erros em sequência no comando da economia. Milhões de eleitores urbanos agora buscam mais que a memória da luta contra o Apartheid e focam numa economia à beira da recessão.
Zuma incomodou investidores em dezembro do ano passado ao mudar de ministro da Fazenda duas vezes em uma semana, o que fez a moeda do país desabar. O rand se recuperou e recebeu um empurrão da paz nas eleições locais, que foram seguras e pacíficas.