BRASÍLIA ? Ao reforçar nesta quinta-feira a necessidade de investigação dos assassinatos de candidatos que participam das eleições deste ano, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes também manifestou preocupação com a participação do crime organizado no processo eleitoral. Questionado se poderia ser feito algo para impedir isso, Mendes respondeu que não há como impedir que pessoas ligadas a milícias, ao narcotráfico ou a facções se candidatem, a menos que haja algum fato capaz de impugnar as candidaturas. Para o ministro, as investigações têm que ser ser feitas com muito cuidado e a imprensa pode ajudar também.
? A polícia, os órgãos de investigação têm que dar atenção a esses desdobramentos. Não é possível simplesmente impedir que essas pessoas se candidatem se elas não forem atingidas por lei de inelegibilidade ou não estiverem respondendo a um processo que pudesse levar a uma eventual impugnação. É preciso que isso seja examinado com cuidado, mas aí acho que a própria imprensa pode ajudar muito ao Brasil, porque a última coisa que podemos desejar é a presença do crime organizado no sistema político ? afirmou Mendes.
O ministro disse que esteve duas vezes na baixada fluminense, no Rio, para conversar com as autoridades sobre a “situação conflitada”, com a presença de milícias, crime organizado, narcotráfico. Segundo Mendes, autoridades do Rio informaram que parte dos crimes contra pré-candidatos podem não estar ligados diretamente à política, mas que a preocupação existe justamente pela possibilidade de participação do crime organizado no governo:
? As autoridades do Rio disseram que havia disputas e algumas atividades ligadas ao crime comum na cidade. Mas quando há envolvimento de milícias, do narcotráfico e de alguns candidatos, temos outra preocupação, que é o crime organizado participando do processo eleitoral. Isso é realmente algo delicado.
Gilmar Mendes comentou ainda que havia uma preocupação muito grande com o recrudescimento da violência no Rio causado pela presença da Força Nacional, alocada na cidade para garantir a segurança dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Mas o ministro acredita que a presença dos militares pode ter garantido um quadro mais moderado de violência no período que antecede as eleições.
O presidente do TSE também voltou a falar do episódio envolvendo o assassinato do candidato a prefeito de Itumbiara (GO), Zé Gomes.
? Estamos também acompanhando com muita atenção e cuidado e pedindo que as investigações sejam as mais prontas possíveis nesses episódios e nesse episódio lamentável ocorrido em Goiás. Deu a impressão realmente de um atentado e nós não temos, pelo menos nessa região, esse tipo de manifestação. As investigações estão sendo feitas, não temos clara a motivação, mas parece estar associado a um contexto ou atuação política. Isso será devidamente esclarecido, mas realmente se trata de um episódio chocante e deplorável ? acrescentou Gilmar Mendes.