BRASÍLIA – Petistas e tucanos adotaram a mesma linha ao comentar as citações do ex-dirigente da Petrobras Nestor Cerveró envolvendo a empresa do filho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ambos os lados defenderam nesta sexta-feira que sejam investigadas as informações que pesam contra Paulo Henrique Cardoso e que não se pode culpar alguém antes de haver provas concretas para tal.
– Tudo que vem de delação precisa ser apurado, não tem ninguém imune a investigações, o Ministério Público e a Justiça vão averiguar as informações prestadas na delação. Nada de extraordinário em relação à necessidade de se apurar os fatos e desvendar a verdade. Ninguém está acima da lei, portanto se existe citação, ela tem que ser apurada a partir da consistência dessa informação – disse Cássio Cunha Lima (PB), líder do PSDB no Senado.
O deputado Antonio Imbassahy (BA), líder tucano na Câmara, também defendeu que as informações sejam apuradas.
– É uma revelação importante e que deve também, a exemplo de tantas outras que estão acontecendo, ser apurada para que não fique nenhuma dúvida com relação a essa suposta negociação. Se ele diz isso, acho que cabe ao ex-presidente da Petrobras uma manifestação. Mas o próprio ex-presidente Fernando Henrique já falou que não tem nenhum fundamento essa fala do Cerveró – disse o deputado.
CRÍTICAS DO PT
Apesar do tom cauteloso ao falar do caso envolvendo o PSDB, parlamentares do PT reclamaram que citações em delações premiadas envolvendo petistas são “tidas como verdadeiras” antes de a informação ser checada. Eles também afirmaram que as referências aos nomes de tucanos em investigações da Lava-Jato mostram que a corrupção na Petrobras já era sistêmica antes dos governos Lula e Dilma.
– Delação por delação é um elemento que provoca investigação. Tem que ser garantida a presunção da inocência e o devido processo legal, não pode ter um tratamento condenatório, e para mim isso funciona para Fernando Henrique, pra Aécio, para Eduardo Cunha e é o que reivindico para os petistas. Mas, em relação ao PT normalmente não é feito dessa forma. Entretanto, cada vez mais que avançam as investigações, fica evidenciado que o caráter sistêmico da corrupção no estado brasileiro não se restringe ao período do PT – afirmou.
Para o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), os tucanos criaram uma narrativa de que a corrupção na estatal começou nos governos do PT. Ele disse que, com as citações envolvendo o governo FH e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) mostram que os desmandos na Petrobras começaram bem antes de Lula chegar ao poder:
– Eles tentaram criar uma narrativa de corrupção na Petrobras a partir dos governos do PT, o que é falso. Esse fato novo, que tem que ser investigado, só demonstra que os desmandos na Petrobras existem há muito tempo.Acabou a narrativa de que problemas de corrupção eram da ‘organização criminosa’ chamada PT, isso não se sustenta mais – criticou o senador.
Nestor Cerveró disse em delação premiada que, por orientação do ex-presidente da estatal Philippe Reichstul, fechou negócio com uma empresa vinculada a Paulo Henrique Cardoso, filho do ex-presidente do PSDB. Segundo ele, o caso ocorreu em 1999 ou 2000.
As informações fazem parte de um dos depoimentos que integram a delação premiada de Cerveró, investigado na Operação Lava-Jato, que apura principalmente irregularidades na Petrobras. O acordo de delação prevê que Cerveró deixe a prisão no próximo dia 24 e devolva mais de R$ 17 milhões aos cofres públicos em razão dos crimes cuja autoria assumiu durante as investigações da Lava-Jato.