Cotidiano

Para presidente da Nissan, pior já passou para a indústria de veículos

RIO – O CEO e presidente mundial da Nissan-Renault, Carlos Ghosn, conversou com o GLOBO sobre o mercado nacional e os desafios globais do setor, em evento no qual apresentou novos protótipos de seus carros inteligentes no Museu do Amanhã.

Qual é a participação da Nissan no mercado brasileiro?

A Nissan atingiu recentemente uma participação de 3% do mercado brasileiro e a Renault tem 7,4%. Nosso objetivo é atingir 15% de participação dessa aliança. A Nissan deve chegar a 5% e a Renault a 10% de participação no mercado. Isso reflete os investimentos que estão sendo feitos no país em capacidade de produção e novos produtos. Não temos uma data estabelecida para atingir essa meta porque a responsabilidade dos nossos times locais é alcançar metas de forma sustentável. Quero mais qualidade nessa participação do que agilidade. Os investimentos que estão sendo feitos são para isso.

Qual é a perspectiva da aliança para economia brasileira em 2017 e de que forma ela influenciou a definição dessa meta?

Eu acho difícil fazer previsão para o mercado automobilístico brasileiro diante de uma situação de transição econômica e política. Mas minha análise pessoal é que não estamos longe do fundo do “buraco” ou como queiram chamar. A previsão para esse ano é que dois milhões de carros sejam vendidos no país. O pico atingido há três anos foi de três milhões de veículos, não está muito longe nem muito perto. Estamos nos preparando para uma retomada do mercado, mas não sabemos quando irá acontecer. Por enquanto estamos vendo um declínio do mercado de veículos menos acentuado do que há alguns meses atrás. Temos de ver o que vai acontecer. O mercado em 2017 vai ficar mais ou menos na situação atual, mas em algum momento haverá um retomada, sem dúvida, pois o mercado brasileiro tem um potencial de venda de 3,5 milhões a 4 milhões por ano.

Do que depende essa retomada para o setor?

Estava reunido em Curitiba com distribuidores há alguns dias e eles disseram que as pessoas continuam desejando novos carros, mas as condições financeiras estão tão difíceis que as pessoas não conseguem comprar. O crédito está mais difícil e mais seletivo do que há três anos atrás. Então, a normalização da situação financeira e política vai ajudar muito as pessoas a poderem voltar a comprar carros. Estamos prontos para retomada. Tanto que o Kicks chega amanhã às lojas brasileiras (é a primeira vez que a Nissan realiza um lançamento global em país da América Latina para só depois atingir os demais mercados). A Renault lançou novos carros aqui também. Isso não é decisão de mercado que está esfriando, mas de mercado que esta para ser retomado.

Qual é o papel do Brasil na meta global da Renault/Nissan?

Nós temos uma estratégia de crescimento diferente em cada grande mercado. O brasil é estratégico porque com o potencial de venda de 3,5 milhões de veículos ano ele é um dos cinco maiores mercado mundiais. Nenhuma montadora pode não olhar para ele.

O senhor tem algumas críticas com relação ao acordos comerciais e regras econômicas na América Latina…

Quando fazemos um planejamento industrial de capacidade temos de levar em conta que acordos entre países não são sempre confiáveis. Teve um acordo entre Brasil e México que foi revertido um ano depois de assinado e nos pegou de surpresa. Nunca se sabe se amanhã vai ter uma crise entre dois países do Mercosul, se vão estabelecer uma nova cota, uma nova regra. E por isso estamos com um pouco de atenção para não ficar numa situação onde uma reversão pode nos afetar.

Qual é o desafio da indústria automobilística e para onde ela caminha?

Hoje as pessoas querem um carro não só para transportar a gente, mas algo conectado, querem poder fazer tudo o que fazem em casa e que não consuma tanta atenção. O autonomos drive, que ocarro vai dirigir você; sãotecnologioas be, desenvolvidos hoje. A questão de qual é a velocidade de você colocar essas tecnologias à disposiçlão do produto.

O estrangulamento das malhas viárias em países latinos colocam em risco o futuro dos negócios na região?

Os países sul americamos terão de investir em infraestrutura porque se isso não for feito assim como vai cair a venda de carros cairá a taxa de crescimento dos países. A infraestrutura é a base do desenvolvimento econômico. Se você não investe, terá de aceitar taxas de desenvolvimento menores. Por isso, para nós não é uma preocupação, é uma condição básica. E a conectividade dos carros automatizados ajudam a te indicar um caminho melhor, menos engarrafado, fora que você pode ficar preso no engarrafamento fazendo outras coisas que faria em casa, então o consumidor fica numa situação mais agradável.

A indústria já mensurou os danos causados pelos defeitos nos airbags Takata e o que está fazendo para amenizar os impactos?

Hoje você vai ter mais recalls porque as montadoras não querem mais ter problemas com o consumidor. Se houver potencial de problema um recall será convocado. Os airbags da Takata são um programa bastante específico. Com um fornecedor. A concentração da indústria automobilística faz com que se tenha menos fornecedores e montadoras, então quando ocorre um problema, ele atinge mais pessoas.