RIO ? Um imenso lago artificial em Jablanica, na Bósnia e Herzegovina, desapareceu completamente este mês, num desastre ambiental que alterou a rotina dos pescadores e moradores da região. A estimativa é que o lago abrigava 2 milhões de peixes, que morreram ou migraram. Segundo ativistas, as chuvas e o derretimento do gelo estão fazendo o lago reaparecer, mas o dano ecológico deve levar anos para ser reparado.
Normalmente, o lago tem cerca de 30 quilômetros de extensão, com profundidade de até 70 metros. O nível da água é regulado para geração de energia elétrica e a prevenção de enchentes na cidade de Mostar. Por esse motivo, os moradores ficaram surpresos ao verem que o lago foi completamente drenado no início desse mês.
A descarga foi realizada pela companhia energética Elektroprivreda BiH. O motivo alegado foi a necessidade da manutenção da produção de energia durante um período especialmente seco e frio, que elevou a demanda por causa dos arquecedores. Em comunicado, a empresa defendeu que a operação não provocou um desastre ambiental e que o lago se recuperará, como já aconteceu no passado.
Durante períodos de seca em 2005 e 2012, os níveis do lago Jablanica ficaram baixos, mas nunca ao ponto de secar completamente, como neste ano. O lago abriga cerca de dez espécies de peixe, incluindo a truta adriática, ameaçada de extinção.
Em entrevista à revista ?New Scientist?, Alen Soldo, da Universidade de Split, na Croácia, disse ser claro que o desaparecimento do lago afetou o habitat dos peixes. Os animais que não puderam ser realocados nem conseguiram migrar, certamente morreram. Além disso, a migração em massa dos peixes do Jablanica para outras partes da bacia do Neretva, já ocupadas por outros peixes, altera completamente os ecossistemas.
Samir Dug, da Universidade de Sarajevo, visitou a região para avaliar o impacto, mas disse ainda não estar claro se danos foram causados à vida selvagem. O pesquisador disse ainda que os pescadores deveriam tirar proveito da situação limpando o lago, removendo o lixo que foi exposto com a drenagem das águas.
Para Petra Remeta, da ONG WWF, o episódio aponta para um problema maior na região: a falta de um gerenciamento integrado das fontes de água. Essa é a mesma opinião de Anes Podic, da ONG Eko Akcija, que lamenta a falta de monitoramento de como as alterações no nível das águas afetam o ecossistema.