Cotidiano

País precisa multiplicar bons exemplos na Educação

A notícia de que o carioca Marcelo Viana, diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), se tornou o primeiro brasileiro a receber o Grande Prêmio Científico Louis D. ? a maior distinção da França na área de pesquisa científica ? traz orgulho e inquietação ao mesmo tempo: por que o país que produz mentes brilhantes como a de Viana tem um desempenho tão ruim no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), entre outros indicadores? Viana não é o único. Há menos de dois anos o matemático Artur Ávila Cordeiro de Melo ganhou a Medalha Fields, o ?Nobel? de matemática, sendo o primeiro pesquisador da América Latina a receber a láurea da União Internacional de Matemáticos.

Enquanto isso, só 1,4% dos alunos brasileiros alcança os níveis 5 e 6 (os mais altos) do Pisa, sendo a média dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico de 13,8%, e a de Cingapura, 42,4%

Apesar do quadro desanimador, há escolas públicas em regiões pobres cujos estudantes apresentam bom desempenho, pondo em xeque o fatalismo de que nada se pode fazer enquanto condições adversas fora das salas de aula ? baixa renda familiar, ambiente violento e pais de pouca, ou nenhuma, escolaridade ? não forem vencidas. É certo que tais circunstâncias são grandes obstáculos ? mas não intransponíveis ? ao aprendizado, porém é preciso transformar a multiplicação das boas experiências numa prática educacional efetiva.

Há estudos recentes nesse sentido, como o da Fundação Lemann, que teve como ponto de partida a série do GLOBO ?Aula de excelência na pobreza?, ganhadora do Prêmio Esso na categoria Educação. As reportagens abordaram 82 escolas públicas brasileiras que, em 2009, estavam entre as 25% que atendiam alunos com menor nível socioeconômico e, ao mesmo tempo, atingiam um Índice de Desenvolvimento da Educação Básica igual ou superior a 6 (objetivo do governo para todas as escolas até 2022). O estudo diz que é preciso definir metas claramente; acompanhar de perto, e continuamente, os alunos; usar dados sobre o aprendizado para embasar ações pedagógicas; e fazer da escola um lugar agradável.

Também é necessário incentivar o envolvimento da família e vencer o corporativismo, que dificulta cobrar desempenho dos professores e premiar os melhores. Estudantes brasileiros só vão se equiparar aos melhores do mundo se forem educados num ambiente de meritocracia, em que o indispensável apoio para suprir deficiências socioeconômicas não pode ser confundido com paternalismo. Não são bem-vindos, portanto, o populismo da aprovação automática, a subordinação do conteúdo a ideologias e demais práticas úteis para partidos e categorias profissionais, mas desastrosas para os estudantes.