Cotidiano

Padres declaram apoio a Freixo em manifesto e são desautorizados pela Arquidiocese

62268066_PA Rio de Janeiro RJ 22-10-2016 Eleições 2016 o candidato a Prefeitura do Rio de Janeiro MA.jpgRIO ? A disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro dividiu a comunidade católica na reta final do segundo turno. Na tarde de terça-feira, um grupo de 11 padres e uma freira lançou um manifesto de apoio ao candidato do PSOL, Marcelo Freixo. Os religiosos, que no texto recorrem a orientações do Papa Francisco, afirmam que a candidatura de Freixo “é a que mais sintoniza com a construção de uma cidade mais justa, fraterna e igualitária”. À noite, a Arquidiocese do Rio divulgou uma nota desautorizando a manifestação dos padres e reafirmando posicionamento apartidário. (Leia abaixo a íntegra dos textos).

Divulgado na internet, o manifesto em apoio a Freixo foi assinado por 919 pessoas até as 21h desta quarta-feira. O texto diz que, segundo orientação do Papa Francisco, é uma obrigação dos cristãos se envolver na política. “Os cristãos não podem fazer como Pilatos e lavar as mãos”, escreveram os religiosos. Na mensagem, eles se apresentam como padres da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

“Nós, padres da Arquidiocese do Rio de Janeiro, no horizonte do Evangelho da Libertação, da efetivação de uma ‘Igreja em saída’ (como compreende o Papa Francisco) e da antecipação do Reino de Justiça e paz inaugurado por Jesus Cristo, entendemos que a candidatura de Marcelo Freixo à prefeitura do Rio de Janeiro é a que mais sintoniza com a construção de uma cidade mais justa, fraterna e igualitária. Desse modo, entendendo como o Papa Francisco que a política é uma forma sublime de caridade em face da qual não podemos ‘lavar as mãos’, como Pilatos o fez”, diz o texto.

A nota da Arquidiocese, assinada pelo cardeal arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, afirma não ter autorizado a manifestação de apoio a qualquer candidato a cargos públicos. No texto, a instituição diz que “não é possível compactuar com posições que entram em confronto com princípios contrários aos valores cristãos”. A nota da Arquidiocese cita exemplos de valores que não podem ser confrontados. Alguns deles foram usados pelo candidato do PRB, Marcelo Crivella, em ataques a Freixo durante a campanha.

“Não é possível compactuar com posições que entram em confronto com princípios contrários aos valores cristãos, tais como o respeito à vida e a clara oposição ao aborto e à eutanásia; a tutela e a promoção da família, fundada no matrimônio monogâmico entre pessoas de sexo oposto e protegida em sua unidade e estabilidade, frente às leis sobre o divórcio; o tema da paz, que é obra da justiça e da caridade, e que exige a recusa radical e absoluta da violência, anarquismo e terrorismo. Devem ser reafirmados o acolhimento e a tutela com relação ao ensino religioso nas escolas além dos outros temas explicitados nas orientações referidas”, escreveu a entidade.

O GLOBO tentou contactar os 11 padres e a freira que divulgaram o manifesto, mas não obteve resposta.

Durante a campanha do primeiro turno, a Arquidiocese do Rio protocolou uma representação contra Crivella no Ministério Público Eleitoral, depois que o candidato do PRB imprimiu panfletos com a imagem de dom Orani Tempesta. O material foi distribuído em portas de igrejas como a Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, e na entrada de estações do metrô. Além de Crivella, dom Orani recebeu outros candidatos à prefeitura do RIo.

A ÍNTEGRA DO MANIFESTO EM APOIO A FREIXO

Nós, padres da Arquidiocese do Rio de Janeiro, no horizonte do Evangelho da Libertação, da efetivação de uma ?Igreja em saída? (como compreende o Papa Francisco) e da antecipação do Reino de Justiça e paz inaugurado por Jesus Cristo, entendemos que a candidatura de Marcelo Freixo à prefeitura do Rio de Janeiro é a que mais sintoniza com a construção de uma cidade mais justa, fraterna e igualitária. Desse modo, entendendo como o Papa Francisco que a política é uma forma sublime de CARIDADE em face da qual não podemos “lavar as mãos”, como Pilatos o fez.

Na companhia de um grande número de católicos e católicas, leigos e leigas comprometidos com a Democracia, com a Vida e a Dignidade humanas na história concreta de nossa Cidade marcada pela violência, injustiça e exclusão social, nos unimos, à luz da Fé, na luta pela VIDA e pela PROMOÇÃO DA PESSOA HUMANA na força evangélica da ?opção preferencial pelos pobres?.

Afirma o Papa Francisco: ?Envolver-se na Política é uma obrigação para um cristão. Os cristãos não podem fazer como Pilatos e lavar as mãos?!

Caminhamos por Cristo, com Cristo e em Cristo!

A ÍNTEGRA DA NOTA DA ARQUIDIOCESE

A Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, diante da manifestação pública de alguns membros do clero e do laicato, esclarece que não autorizou ninguém a falar em seu nome, nem dos padres, tampouco em nome de movimentos, pastorais, associações e paróquias acerca do atual processo político carioca. As pessoas podem se manifestar pessoalmente e arcar com as consequências, mas não podem falar por quem não foram autorizadas. Tampouco têm autorização da autoridade diocesana para indicar qualquer candidato aos cargos públicos, como aconteceu nessa recente manifestação, na qual indicam um candidato para o segundo turno das eleições municipais da cidade do Rio de Janeiro.

A Arquidiocese reafirma sua posição de organismo apartidário, que defende os princípios da Igreja Católica de acordo com as orientações que assumidas pelo Regional Leste 1 da CNBB e das quais foi dada ampla divulgação. Não é possível compactuar com posições que entram em confronto com princípios contrários aos valores cristãos, tais como o respeito à vida e a clara oposição ao aborto e à eutanásia; a tutela e a promoção da família, fundada no matrimônio monogâmico entre pessoas de sexo oposto e protegida em sua unidade e estabilidade, frente às leis sobre o divórcio; o tema da paz, que é obra da justiça e da caridade, e que exige a recusa radical e absoluta da violência, anarquismo e terrorismo. Devem ser reafirmados o acolhimento e a tutela com relação ao ensino religioso nas escolas além dos outros temas explicitados nas orientações referidas.

Portanto, o voto do católico só poderá assim ser considerado se os programas dos candidatos merecedores desse voto também estiverem em comunhão com os princípios humano-cristãos.

Diante da perplexidade gerada por tal manifestação já divulgada pelas mídias sociais, ocasionando o escândalo da desunião, a Arquidiocese de São Sebastião Rio de Janeiro pede a união de todos no Senhor Jesus e a contínua disponibilidade para a missão evangelizadora numa Igreja em saída, que caminha junto com seus pastores.