RIO ? Na homilia do primeiro domingo da Quaresma, o padre Julio Lancellotti convocou os fiéis à tradicional missão de ajudar os oprimidos ? mas, desta vez, com foco na defesa das mulheres e dos homossexuais. Em discurso de cinco minutos, que já compartilhado mais de 6 mil vezes no Facebook, o pároco critica o machismo, a cultura do estupro, a homofobia e o fato de “tanta gente seguir alguém violento como (Jair) Bolsonaro” ? em referência ao deputado federal do PSC-RJ, pré-candidato à Presidência em 2018.
“Temos que parar de ser gente muda”, bradou o padre Lancellotti, ouvido com atenção por fiéis na Capela São Judas, em São Paulo. Ele pediu aos presentes que não aceitassem a covardia contra os pobres e os pequenos e que avaliassem se reproduzem a homofobia e a misoginia no que falam no cotidiano ? algo, segundo o religiosa, “inaceitável para o tempo que vivemos”.
Em sua página no Facebook, Bolsonaro disse que o padre foi acusado por pedofilia. Ele ainda acusa o pároco de ser militante do PT e pede que seus seguidores “tirem as próprias conclusões” ao assistir o vídeo. Nos comentários, usuários ligados ao deputado federal pediram a punição do padre e criticaram a incursão de política no discurso. Foi o religioso quem fez a extrema-unção ao corpo da ex-primeira-dama Maria Letícia, companheira do ex-presidente Lula que morreu mês passado.
Confira os principais trechos do discurso do padre Julio Lancellotti.
Incêndio em Paraisópolis
Defendam os fracos. Não aceitem a covardia contra os pobres e os pequenos, manifestem a inconformidade com aquilo que é escândalo e anti-ética. Quem viu nessa semana o incêndio em Paraisólpos, viu aquelas pessoas desesperadas, jogando as caixinhas d’água para apagar o incêndio. Muitos perderam os seus barracos. Temos que parar de ser gente muda. Tem que reclamar e dizer por que não tem remédio para os pobres no posto de saúde. São coisas impresisonantes, de impostura contra a vida do nosso povo. No incêndio do Paraisópolis, ninguém se vestiu de bombeiro para ir lá apagar o fogo.
Cultura do estupro
Nós temos que encontrar canais de discernimento e, se nós não nos manifestamos, não há mudança. Celebrar o dia da mulher, não basta dizer para a mulher que você conhece “parabéns”. Você tem que ser alguém que mude a sua cabeça, a sua forma de pensar, a maneira de educar, para que não haja mais cultura do estupro, em que os meninos não pensem que são mais fortes que as meninas. E que os meninos não mandem nas meninas. Os meninos podem fazer o que quiserem e as meninas, não.