Cotidiano

Oposição reúne milhares de pessoas em marcha por revogatório em Caracas

201609011131179779_AFP.jpg CARACAS ? Vestidos de branca e com mensagens de ?mudança já?, milhares de opositores iniciaram nesta quinta-feira uma manifestação convocada pela oposição em Caracas. O protesto exige que o poder eleitoral acelere o processo para o referendo revogatório que poderia encurtar o mandato do presidente venezuelano, Nicolás Maduro. No início da manhã, a polícia fechou os acessos à capital utilizados por grupos que se deslocavam para participar da mobilização chamada de ?Ocupação de Caracas?.

Contingentes de policiais e veículos blindados se concentram em alguns pontos da cidade, enquanto a manifestação promete tomar as ruas do centro, próximo ao Palácio de Miraflores. Os principais líderes opositores ? como o governador do estado de Miranda, Henrique Capriles, e o presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup ? se dirigiram ao Leste de Caracas, considerado um bastião da oposição, para reunir seguidores.

Com roupas estampadas pela bandeira venezuelana, Marisela Goitia, uma dona de casa de 42 anos, saiu de casa para marchar com seus dois filhos e seu cunhado. Ela se fiz indignada porque seu pai foi operado recentemente por um problema cardíaco e não consegue comprar os medicamentos de que necessita. A Venezuela vive uma profunda crise econômica, que inclui a escassez de produtos básicos, como alimentos e remédios.

? Não é justo o abismo em que estamos. Hoje deve mudar tudo porque está tudo pronto para o revogatório ? afirmou Marisela.

A coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) espera abrir nesta quinta-feira uma nova etapa nas mobilizações populares para pressionar o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) a agilizar o processo do referendo revogatório contra o mandato de Maduro. O tempo é uum fator-chave para os opositores, já que uma eventual derrota do presidente resultaria em eleições diretas se for definida ate o dia 10 de janeiro de 2017. Se ocorresse depois disso, assumiria o vice-presidente de Maduro.

O presidente, no entanto, afirma que a oposição busca provocar a violência para abrir o caminho a um golpe de Estado contra o seu governo. Por isso, alertou que opositores serão presos caso haja agressões na manifestação em Caracas. Em 2014, o líder opositor Leopoldo López foi preso sob acusações de ter incitado os protestos que resultaram em dezenas de mortes. Posteriormente, foi condenado a 14 anos de prisão e permanece no cárcere.

Nesta quinta-feira, Capriles denunciou a prisão de dois prefeitos do estado de Guárico, no Norte do país, e a retenção de vários ônibus em postos de controles das rodovias de acesso a Caracas, para evitar a chegada de manifestantes à capital. Na véspera da marcha, autoridades detiveram três dirigentes opositores acusados de planejar atos violentos. E, nos últimos dias, jornalistas de diferentes países que cobririam o protesto foram barrados por autoridades migratórias.

Dentro da capital, pelo menos quatro estações de metrô foram fechadas à população. Segundo a empresa pública responsável pelo serviço, a medida busca resguardar os usuários, embora nos últimos dias houvesse afirmado que o transporte seria mantido normalmente. No entanto, a oposição já publica as primeiras imagens da concentração para a marcha.

Ex-presidente da Assembleia Nacional e número 2 do regime chavista, Diosdado Cabello, advertiu na quarta-feira que Caracas seria trancada no dia da manifestação. Ele justificou a medida com os graves episódios de violência que deixaram 43 mortos durante protestos contra o governo em 2014.

? Não nos provoquem. Nós só vamos trancar Caracas parta que ninguém entre e ninguém saia ? afirmou.

Centenas de policiais formam uma enorme barreira policial na Praça Venezuela, para evitar que a marcha da oposição se choque com manifestantes que se reúnem em favor do presidente. Com camisas vermelhas, apoiadores de Maduro se reúnem na Praça Bolívar, também no centro da cidade.

? Estamos aqui para responder ao nosso presidente e defender a revolução ? disse Carolina Aponte, dona de casa de 37 anos.

Segundo uma pesquisa da Datanálisis, oito em cada dez venezuelanos quer uma mudança de governo. Golpeada pela queda dos preços do petróleo, o país sofre com a escassez de 80% de remédios e alimentos. A inflação, por sua vez, é a mais alta do mundo e pode chegar a 720% neste ano, segundo as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI).