BAGDÁ ? No terceiro dia de confrontos entre as tropas iraquianas e combatentes do Estado Islâmico (EI) em Mossul, cerca de 900 pessoas já fugiram da cidade iraquiana e cruzaram a fronteira para a Síria, segundo as Nações Unidas. E, na estimativa de organizações humanitárias, este pode ser apenas o início de uma grande fuga em massa: mais de 1 milhão de pessoas podem deixar suas casas na segunda mais importante cidade do país. Desde segunda-feira, soldados iraquianos conduzem uma ofensiva para libertar Mossul dos jihadistas ? que, segundo o Pentágono, estão fazendo civis de escudo humano.
Segundo uma porta-voz do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), as centenas de pessoas que deixaram Mossul estão agora em um campo de refugiados na Síria. É provável que a agência mantenha o grupo no abrigo por um tempo e, depois, os leve para um local a salvo no Iraque.
A grande movimentação na saída de Mossul indica que os jihadistas não estão conseguindo impedir que as pessoas deixem as cidades, segundo a rede BBC. Mas, também, provoca questionamentos se os extremistas podem usar a mesma rota para escapar. Há relatos de que o líder do Estado Islâmico está entre os milhares de militantes linha-dura ainda na cidade, o que sugere que o grupo terá que se esforçar muito para repelir a coalizão.
Embora apoiada pela coalizão internacional de combate aos jihadistas, a ofensiva na cidade às margens do rio Tigre preocupa as organizações humanitárias internacionais. Na terça-feira, o Pentágono confirmou que civis estão sendo usados como escudo humano por combatentes jihadistas. O receio é que a segunda cidade mais importante do Iraque seja palco de uma tragédia como a de Ramadi, devastada pelas disputas pelo controle do território no ano passado.
? O céu está sempre preto pela fumaça dos pneus queimados pelos extremistas ? relatou por telefone o morador de Mossul Abu Saif, de 47 anos, à AFP. ? No fundo, estamos felizes porque estamos prestes a ser libertados, mas temos medo que o Estado Islâmico se vingue contra a população.
BATALHA DECISIVA
A perda de Mossul, berço do califado autoproclamado do grupo Estado Islâmico (EI), poderia ser um golpe fatal para o movimento extremista que controla vastos territórios no Iraque e na Síria.
Em 2014, o líder do grupo, Abu Bakr al Baghdadi, proclamou a instauração de um califado na mesquita de Nuri, em Mossul. Mas, dois anos depois, os jihadistas já perderam várias posições estratégicas nos dois países ? e a perda de Mossul, um simbólico reduto extremista, pode ser uma derrota decisiva.
?A perda contínua de territórios faz com que o cenário de um ‘califado’ seja ainda mais difícil de manter para o grupo?, afirma a consultora de segurança, Soufan Group.
Em junho, as forças iraquianas conseguiram retomar Fallujah, cidade situada a Oeste de Bagdá, onde soldados americanos tinham sofrido sua pior derrota desde a guerra do Vietnã.