RIO – A ONG Rio de Paz faz um ato público na manhã desta segunda-feira, na Praia de Copacabana, na Zona Sul, contra o abuso sexual sofrido por mulheres. A manifestação acontece na altura do Copacabana Palace. Vinte painéis foram fixados na areia com rostos femininos marcados de vermelho. Além disso, 410 calcinhas, nas cores vermelho e branco, foram espalhadas no local.
De acordo com o fundador da organização, Antônio Carlos Costa, esse número representa a quantidade de mulheres que denunciam abusos sofridos a cada três dias no Brasil, ou seja, casos que são notificados.
As estatísticas são assombrosas: no nosso país são cerca de 50 mil (casos) por ano. O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicado) acredita que 50 mil pode equivaler a apenas 10% do total de estupros que ocorrem afirma Costa, que explica o conceito da mancha vermelha, em forma de mão, representada nas imagens. A mão vermelha representa a violência sofrida e ao mesmo tempo essa violência que é silenciada. É uma violência dupla: não apenas a mulher é vitima pelo abuso sexual em si, como também vive num ambiente de coerção, em que não tem a quem procurar e é subjugada por quem pratica o crime. Existe o o receio de falar e levar o estigma de mulher que sofreu violação sexual. Não é fácil!
Com o ato, a ONG reivindica, segundo a organização, combater a impunidade: que os casos sejam elucidados e os culpados punidos; cobrar políticas públicas com a perspectiva de realizar um trabalho preventivo; e também por apoio psicológico por parte do estado para vítimas que sofreram abusos. Costa ressalta que a questão social também contribui para que o cenário propício a prática deste tipo de crime seja criado.
Trabalhamos em favela e observamos o estado de vulnerabilidade de adolescentes, que, muitas vezes, chegam aos 16 e 17 anos, com dois filhos, com namorado preso ou morto. É carente de qualificação profissional e de acesso ao mercado de trabalho. É um quadro dramático que não se combate apenas com a elucidação do crime, mas com prevenção. diz ele, que complementa. Essa responsabilidade também é do estado (todas as esferas do poder executivo), que deixa essas moças em completa vulnerabilidade. Se for pegar as estatísticas, a maioria das mulheres que sofrem violação sexual vivem em locais pobres. Há uma relação entre a violência e a questão social.
Os painéis foram fincados na areia durante a madrugada desta segunda-feira. No período, as calcinhas, que foram doadas, foram dispostas na areia. No início desta manhã, o autor das imagens, o fotógrafo Marcio Freitas, também estava na praia. Ele contou que a ideia surgiu após o pedido de uma amiga, também foi fotografada, de fazer alguma ação, depois do episódio do estupro coletivo na Praça Seca.
Comecei a elaborar algo que fosse maior, chegar mais longe com aquela mensagem. Já trabalhei com diversas causas institucionais diferentes, e a gente pensa em como chegar até as pessoas, impactá-las de uma forma mais intensa e aumentar o debate conta ele, que destacou que, além das calcinhas, as impressões e o material utilizado também foi doado. As mulheres fotografadas que participaram da ação foi em caráter colaborativo.
O fotografo contou que todas as mulheres registradas tiveram, de alguma forma, algum contato com abusos ou tentativas de abusos.
Fazer as fotos foi um processo muito duro. Cada uma (das modelos) trouxe alguma coisa de dentro diferente: uma ficou com muita raiva, outra chorando compulsivamente. Cada uma deles teve alguma situação interna de ter passado por alguma situação difícil.
De acordo com a organização, o ato deve ocorrer até as 18h.