Cotidiano

ONG: Em cinco anos de guerra, 17 mil já morreram nas prisões sírias

DAMASCO ? Espancamento, choque elétrico, queimaduras em água fervente, estupros. É com métodos como este que o governo sírio recorre à tortura em larga escala nas suas prisões. Em cinco anos de guerra, mais de 17,7 mil detentos já morreram no cárcere do regime, segundo um novo relatório da Anistia Internacional. A organização humanitária denuncia as crueldades relatadas por já quem se libertou da prisão síria, após ter ouvido dezenas de depoimentos de pessoas que sobreviveram após ficarem atrás das grades em Saydnaya, perto de Damasco, por suspeita de oposição ao governo de Bashar al-Assad.

À Anistia, eles descreveram alguns rituais sinistros, como a ?festa de boas-vindas?. Os novos detentos são espancados com barras de ferro, de plástico ou com cabos elétricos quando são admitidos na prisão. A maioria das vítimas contou ter visto pessoas morrerem na prisão e vivido nas celas junto com os cádaveres que eram mantidos ali mesmo. Outros detentos relataram ter sofrido descargas elétricas, queimaduras com água fervendo e estupros.

“Eles nos tratavam como animais. Eu vi o sangue correr, como um rio”, contou o advogado Samer, referindo-se aos guardas da penitenciária.

Em seu relatório, a ONG classifica de crimes contra a Humanidade os atos de tortura generalizados e sistemáticos contra todos os civis suspeitos de serem contra o governo. Ao menos 17.723 presos morreram desde o início da guerra, em março de 2011, nas prisões sírias ? uma média superior a 300 mortes por mês. No entanto, a organização alerta que os números reais de vítimas fatais são bem mais elevados, e já houve milhares de casos de desaparecimentos forçados.

Denunciando processos perversos, a Anistia Internacional reclama ainda da comida insuficiente, dos cuidados médicos limitados e da ausência de instalações sanitárias adaptadas nas prisões.

“O caráter sistemático e deliberado da tortura e de outros tratamentos ruins na prisão de Saydnaya testemunha uma crueldade em sua forma mais vil e uma falta flagrante de humanidade”, denuncia o diretor da Anistia para o Oriente Médio e o Norte da África, Philip Luther.

?MORTOS SUFOCADOS?

Omar, uma das pessoas ouvidas pela Anistia, testemunhou o momento em que um agente penitenciário obrigou um homem a se despir e a violentar outro detento. Se ele desobedecesse, seria morto.

Já o militante antigoverno Said contou que foi violentado com um bastão elétrico. Ele foi pendurado por um dos seus braços e teve os olhos vendados. Tudo isso na frente do seu pai.

Outro ex-preso contou que um dia a ventilação parou de funcionar, e sete pessoas morreram sufocadas nos centros de detenção lotados.

Em Saydnaya, onde as temperaturas são baixas no inverno, os presos eram mantidos por semanas em celas subterrâneas, sem qualquer agasalho. Para não morrer de fome, muitos disseram ter comido caroços de azeitona e cascas de laranja.

Vários detentos foram soltos após diferentes anistias decretadas pelo governo nos últimos anos, trocas de presos ou ao fim dos seus processos. Hoje, não se sabe qual é o seu paradeiro.