Primeiro saiu a mãe, Nena, desconfiada, cheirando o ar e abrindo caminho para os filhotes – a fêmea na frente e, minutos depois, o macho. Assim foram os primeiros passos dos filhotes de onça-pintada (Panthera onca) nascidos no início de junho no RBV (Refúgio Biológico Bela Vista), no recinto que vão compartilhar com a mãe pelos próximos anos. A partir de agora, mãe e filhotes já podem ser visitados pelos turistas que forem ao RBV.
A soltura, na tarde desta quinta-feira (29), foi acompanhada do anúncio do concurso para a escolha dos nomes das onças-pintadas, que será feito por meio de votação de alunos de duas escolas municipais da Vila C – Padre Luigi e Arnaldo Isidoro de Lima. “Vamos fazer uma pré-seleção dos nomes e convidar as crianças para que venham visitar as onças e ter um contato não somente com os animais, mas com todo o trabalho feito no Refúgio Biológico”, explicou o diretor de Coordenação da Itaipu, general Luiz Felipe Carbonell.
O objetivo do concurso é aumentar ainda mais o vínculo das crianças com o RBV, promover a educação ambiental e proporcionar o contato com a natureza. “A Itaipu se preocupa com a parte educativa e cultural. As crianças vão dar o nome às onças e terão a oportunidade de visitá-las, aprender sobre elas e entender a importância destes animais na natureza”, afirmou o diretor-geral brasileiro da Itaipu, general Joaquim Silva e Luna.
O concurso vai durar cerca de um mês. Os alunos poderão votar em uma urna que ficará diante do recinto das onças. A escola que tiver o maior número de votos nos nomes vencedores vai ganhar um kit com cinco computadores, para equipar ou ampliar uma sala de informática.
Nena e os dois filhotes ficarão expostos no recinto das onças todos os dias da semana, com exceção de segundas e sextas-feiras, quando o recinto será ocupado pelo pai, Valente. O RBV funciona de terça a domingo, a visita dura 2h30 e precisa ser agendada previamente. Moradores de municípios lindeiros possuem gratuidade. Mais informações: www.turismoitaipu.com.br
Primeiros passos
A apresentação das duas onças-pintadas na tarde desta quinta-feira (29) movimentou o recinto das onças, no RBV. Participaram os diretores e conselheiros brasileiros da Binacional, a imprensa da região, os empregados da Itaipu e os tratadores que puderam levar suas famílias à estreia das onças. Também foi ver os animais um grupo de 20 crianças do Projeto Amigos do RBV e do Ecomuseu, que promove oficinas para mais de 100 estudantes, entre 10 e 15 anos, de escolas dos bairros Vila C e do Porto Belo.
Para marcar o caminho onde Nena e os filhotes passariam, o biólogo Marcos José de Oliveira, da Divisão de Áreas Protegidas, teve uma ideia: fez uma trilha com pedaços de carne para que as onças pudessem andar pelo recinto. “Adiamos a alimentação delas e espalhamos pelo espaço para elas cheirarem e caminharem”, disse. Ele explica que a técnica também é utilizada no enriquecimento ambiental da espécie, ou seja, são colocados obstáculos para que o animal encontre a comida, para estimular o exercício e o uso dos sentidos.
A tática deu certo, depois que o portão da área de cambeamento foi aberto, Nena, a mãe, foi a primeira a sair. “Isso era esperado. Ela sai na frente e chama os filhotes para virem a atrás”, explica Marcos de Oliveira. A filhote fêmea veio na sequência e, bem depois, foi a vez do macho. Eles andaram pelas trilhas, passaram pela água do lago e se protegeram do sol, embaixo da pedra principal do recinto.
O movimento dos filhotes encantou o Pietro, 4 anos, que de um grito quando a primeira onça surgiu no recinto. O menino estava no colo do avô, o tratador da terceirizada Trecho Valmor Grapiglia, 59, que foi convidado a participar da apresentação das onças. Há 30 anos trabalhando no RBV, Valmor conhece cada palmo do recinto desde a época de Juma, a primeira onça-pintada da Itaipu. “Quando começamos, nem este recinto existia ainda”, disse, com orgulho.
Cuidados especiais
As onças-pintadas nasceram nos dias 1º e 2 de junho deste ano, e foram apresentados à imprensa no dia 27 de junho, data do aniversário de 35 anos do Refúgio Biológico Bela Vista. Na ocasião, foi feita a sexagem (processo visual para saber se são macho ou fêmea) e avaliação geral, para verificar a saúde dos filhotes. A oncinha preta, melânica como a mãe (Nena), é fêmea; a outra oncinha, pintada como o pai (Valente), é macho.
Após três meses, as onças passam bem e já podem ser expostas ao público no recinto das onças, junto com a mãe. Na última pesagem, há duas semanas, o filhote macho tinha 12 kg e a fêmea, 8 kg. Elas são alimentadas, diariamente, junto com a mãe, com 3kg de carne, quantia que será aumentada gradualmente nos próximos meses.
De acordo com o médico veterinário Zalmir Cubas, agora que as onças foram soltas no recinto, aumentam os cuidados por parte dos profissionais do RBV. “Vamos estar constantemente observando os filhotes, porque o recinto tem um lago, árvores e pedras que podem causar acidentes. As onças ainda são pequenas e vão explorar o novo espaço”, afirmou Zalmir.
Banco genético
Esta é a segunda reprodução bem-sucedida de onças-pintadas no Refúgio Biológico da Itaipu. Em dezembro de 2016, nasceu Cacau, a primeira reprodução depois de 14 anos de tentativas. Assim como as duas novas onças, Cacau é filha Nena e Valente. Nena chegou ao RBV em 2016, vinda de uma fazenda entre os estados do Mato Grosso do Sul e Goiás. Mais antigo, Valente chegou em 2007. Ele foi encontrado em uma fazenda entre Mato Grosso do Sul e São Paulo.
O objetivo do Programa de Reprodução da Onça-Pintada, da Itaipu, é formar um banco genético vivo que permita, futuramente, fazer a reinserção desses animais na natureza. Essa reinserção vai envolver várias instituições e, para isso, são necessárias boas matrizes. Os novos filhotes podem se tornar reprodutores e ajudar no processo de reintrodução das espécies nascidas em cativeiro.
Segundo o médico veterinário Pedro Teles, também da Divisão de Áreas Protegidas, a onça macho Valente é um caso raro no País. “Talvez seja a única onça-pintada macho em cativeiro proveniente da região da Mata Atlântica”, conta. “Por isso, a reprodução dele é muito importante, porque vamos ampliar o número de animais com este banco genético”. A estimativa é que exista atualmente na Mata Atlântica apenas 300 exemplares de onça-pintada, a maior parte delas em áreas protegidas como o Parque Nacional do Iguaçu (PNI).