Vivian Weiand é jornalista – [email protected]
Esses dias tive a feliz noticia de que minha sobrinha quer ser jornalista. Aos 12 anos, a garota tem se fascinado com o que a tia, profissional mais próxima que ela conhece a rotina, faz no dia a dia. Está na fase. Meu filho quer ser bombeiro e o outro quer seu o "titio que dá vacina", uma reverência ao simpático e meigo rapaz da clínica de vacinação que mantém em dia a dose da gripe A. Nessa idade e gente vai se encontrando e lembro que eu queria ser professora. E não era qualquer professora. Queria ser como profe Mirna, a querida educadora da primeira série. Era só me perguntar o que eu queria ser e já vinha resposta: profe. Mas se quisesse ser astronauta não fazia a menor diferença porque ninguém dá a menor atenção aos desejos profissionais de uma criança.
Quando ficamos maiores é que talvez alguma pretensão começa a atiçar nossos pais, pessoas que podem ficar com os cabelos em pé – como vou pagar faculdade de medicina? – ou mais tranquilas com a informação. Direito? "Sim, boa escolha. Muito bom ter advogado em casa”.
Cursando a sétima série do ensino fundamental, se me perguntassem o que eu queria ser eu logo pensava: adulta. Queria muito ser adulta, queria fazer as pessoas entenderem que no meu caminho não estavam matemática tampouco a física. Queria que alguém me dissesse que não, eu não era burra, – não pode ser burra quem tira dez em português e 9,5 em literatura – mas a verdade é que minha avaliação em matemática sempre foi a maior dor de cabeça da minha infância e se estendeu adolescência adentro. Não era por ter 5 e 6 nas famigeradas exatas que me faziam ser pequena. Meu tipo de inteligência estava voltado para as humanas. Era só olhar para mim, para meus hábitos e rapidamente ficava fácil entender que eu nunca seria engenheira. Eu assinava o papel que tivesse de assinar, prometo nunca fazer nada que envolva matemática e física, mas, por favor, não me façam estudar matemática até meus 17 anos.
Não estou falando dos báculos do dia a dia, aquela coiramas óbvia que a matemática sempre ajuda, Falo das equações, da geometria analítica, da dilatação dos gases, a força e o deslocamento. Não tentem me dizer que é fácil entender se meu cérebro é da leitura. Minha adolescência, nesse contexto, foi um verdadeiro martírio e não estava sozinha nessa. Meus colegas gênios da matemática costumavam padecer nas provas de português e não raro essa discrepância fazia um bom aluno perder o ano escolar. Mês de março era um tormento: começaram as aulas. Em setembro a gastrite começava: tinha dois meses para recuperar as notas ruins em matemática.
Eu sabia que só quando fosse adulta estaria livre de fazer o que tanto me aborrecia. Um dia tudo isso ficaria para trás, e, me tornando adulta, de fato ficou. Hoje, o máximo que vejo de números são quando eles estampam o rodapé das páginas dos artigos que escrevo. E só. Eu queria ser professora, lembra? Depois tive a fase tradutora e por fim optei pelo jornalismo, área das humanas, algo tão óbvio quanto água cristalina. Mas não era adulta, a mim não cabia gerenciar minha vontade muito menos minha vida. desde que me dei conta de que queria logo ser adulta, por longos cinco anos ainda tive de suportar fazer aquilo que não gostava, que não tinha afinidade nem o menor talento. Noites insones e tardes embirrada decorando o que não entendia simplesmente para conclui o ano escolar, um ano a menos na contagem do vestibular, outro que me cobraria aqueles conhecimentos. Paguei os pecados quando passei no vestibular. "Tchau, tchau, matemática. Nunca mais vou te ver e nunca mais você vai atazanar a minha vida" era o que eu pensava até semana passada, quando meu filho me perguntou, com cara de poucos amigos, quando dava 7 vezes 8.