Cotidiano

Número de doenças emergentes quadruplicou em 60 anos, diz levantamento

RIO ? Um levantamento realizado pela Aliança EcoHealth, organização sem fins lucrativos dedicada ao estudo de doenças emergentes, afirma que o surgimento de novas enfermidades, quadruplicou nas últimas seis décadas. Vinte e sete foram identificadas na América Latina e no Caribe entre 1940 e 2013. O Brasil lidera o ranking ? oito delas estão presentes no território nacional.

A cada ano, as doenças infecciosas provocam a morte de mais de 15 milhões de pessoas no mundo ? a maioria das vítimas são crianças de menos de 6 anos de idade.

Diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis e Análise de Saúde da Organização Pan-Americana de Saúde, Marcos Espinal sublinha que a América Latina e Caribe registram um ?número crescente de eventos de possível interesse para a saúde pública internacional?. Só em 2014 foram identificados e avaliados 93 eventos com estas características.

O prejuízo causado pelas enfermidades é visível em muitos países e exigem grandes investimentos dos governos. O combate à dengue custa, em média, US$ 2,1 bilhões por ano na região. Em 2009, o surto da gripe H1N1 afastou 500 mil turistas do México, provocando uma perda estimada de US$ 2,8 bilhões no setor turístico.

Entre as doenças infecciosas emergentes estão casos novos e já conhecidos pelos cientistas. Alguns deles são registrados pela primeira vez em determinado lugar. É o caso do vírus zika, que se espalhou pela América Latina em 2016 e levou a uma emergência de saúde global. Ele foi identificado pela primeira vez na Floresta de Zika, em Uganda em 1947. A novidade foi sua chegada e expansão pelo continente americano.

De fato, segundo um estudo da Universidade Brown (EUA), o número de surtos por ano quase triplicou desde a década de 1980.

? Surtos não respeitam fronteiras ? disse Espinal, em entrevista à BBC Munddo. ? Vivemos em um mundo globalizado, onde você pegar um avião em Nova York e chegar oito horas depois em Moscou.

Além da globalização, outros fatores devem ser considerados, como as mudanças climáticas, a resistência de micro-organismos a determinadas terapias e a falta de serviços básicos, como saneamento.

Vice-presidente de pesquisas da EcoHealth Alliance, Kevin Olival ressalta que, em diversas ocasiões, estas doenças surgem devido a ?alterações realizadas pelo ser humano no meio ambiente?.

O desmatamento, a destruição de habitats naturais, a agricultura e a caça aumentam o contato humano com áreas inexploradas e, portanto, aumentam nossa aproximação a determinadas doenças. Portanto, a América Latina, que apresenta grande diversidade ecológica, teria também uma diversidade maior de patógenos.

Embora haja um grande número de focos infecciosos que não podem ser evitados, Espinal afirma que o principal desafio é evitar que sejam a origem de epidemias. Para isso, é importante que os governos invistam em prevenção e tratamento, assim como a colaboração da sociedade civil.