Cotidiano

Novo vice de Maduro representaria governo mais repressor, diz analista

FILES-VENEZUELA-POLITICS-EL AISSAMI-GSS32FEM1.1.jpgBUENOS AIRES – A restruturação ministerial anunciada por Nicolás Maduro foi interpretada por analistas locais como um claro endurecimento do chavismo, em meio à mais grave crise econômica da História do país e à crescente insatisfação social. Para Carlos Romero, professor da Universidade Central da Venezuela (UCV), as mudanças implicarão ?maior concentração de poder nas mãos do círculo mais radical do chavismo?. O diálogo com a oposição, assegurou Romero, ?está definitivamente enterrado?.

Que análise o senhor faz das trocas no Gabinete, neste momento?

Minha primeira impressão é de que esta decisão implicará maior concentração de poder na Venezuela. Está claro que, hoje, Maduro, o novo vice, Tareck El Aissami, o ministro da Defesa, general Padrino López, e Diosdado Cabello (ex-presidente da Assembleia Nacional (AN)) são os homens fortes. Venezuela

O ex-vice Aristóbulo Isturiz não era do círculo íntimo de Maduro?

Claramente não. Muitas pessoas vinham dizendo que, com uma renúncia, seria mais fácil negociar com Isturiz. Agora há El Aissami, da linha mais dura do chavismo.

Qual é o perfil do novo vice?

Ele é um homem que tem amplos vínculos com o setor empresarial e militar. Também é suspeito de relações com o narcotráfico, fato investigado pelos EUA. O poder agora está em mãos dos grandes nomes do chavismo, dos big brothers.

A indicação poderia antecipar uma renúncia de Maduro?

Poderia ser, mas não sabemos. Poderíamos pensar ainda que o presidente busca assustar com um recado do tipo: ?Se eu sair, quem vier será ainda mais duro do que eu?. El Aissami representaria um governo mais repressor, excludente. Ele integra a ala dura, mais ainda que Maduro.

Por que tantas mudanças, tão importantes, neste momento?

O governo está buscando consolidar-se no poder. A oposição deve estar atenta. Amanhã (hoje) devem assumir as novas autoridades da AN. São momentos fundamentais. Vejo agora um Gabinete mais radicalizado e um governo decidido a endurecer.

Como fica o diálogo com a oposição neste novo cenário?

Não fica. Não existe mais, está enterrado. O chavismo está se mostrando forte e pouco conciliador. Não vejo muitas possibilidades de que o diálogo seja retomado. O governo se fechou em si mesmo e está cada vez mais distante de qualquer acordo com setores opositores. Estas mudanças são um verdadeiro atentado ao diálogo. O chavismo não cogita, de forma alguma, dar qualquer passo que possa implicar o risco de perder o poder.