ANCARA ? O vencedor do Prêmio Nobel de Literatura Orhan Pamuk denunciou, neste domingo, o “regime de terror” em que está mergulhada a Turquia. A declaração veio após a prisão de um influente jornalista e do seu irmão, no auge dos expurgos que sucedem a tentativa de golpe de Estado de 15 de julho. A onda de repressão afeta todas as categorias da sociedade turca, incluindo jornalistas, professores e intelectuais.
No sábado, a agência de notícias estatal Anadolu anunciou a prisão de Ahmet Altan e do seu irmão, suspeitos de conexão com a tentativa de golpe. Segundo o “Hürriyet”, Altan e seu irmão responderão pelo que disseram diante das câmeras em uma conversa transmitida pela televisão um dia antes da tentativa de golpe.
“Estou muito chateado, quero expressar minhas críticas mais ásperas contra a prisão do escritor Ahmet Altan, de um dos grupos mais importantes do jornalismo turco, e de seu irmão, Mehmet Altan, professor universitário e economista de renome”, escreveu Pamuk, que ganhou o Nobel em 2006, em um artigo publicado pelo jornal italiano La Repubblica. “Na Turquia, estão fechando pouco a pouco em celas todas as pessoas que se atrevem a fazer críticas, inclusive mínimas, sobre as ações do governo, baseando-se no ódio mais feroz”.
Pamuk, que já foi criticado pelo presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, antes do golpe frustrado, não havia falado até agora dos expurgos realizados pelo governo.
“A liberdade de pensamento já não existe. Estamos nos afastando a toda velocidade de um Estado de direito e vamos para um regime de terror”, acrescenta o escritor pedindo a libertação imediata dos intelectuais presos.
O governo turco atribui a tentativa de golpe ao movimento do clérigo Fethullah Gülen, que vive nos EUA e nega envolvimento com a tentativa de tomar o poder.
CONFLITOS EM PREFEITURAS
A Embaixada dos Estados Unidos em Ancara disse neste domingo estar preocupada com as notícias de disputas no Sul da Turquia. Confrontos tomaram algumas cidades após a decisão do governo de remover prefeitos em duas dezenas de municípios sob suspeita de ligação com militantes curdos.
“Estamos preocupados com relatórios de disputas no sudeste da Turquia após a decisão do governo de remover algumas autoridades eleitas sob acusações de apoiar o terrorismo, e apontar administradores locais em seus lugares”, disse a embaixada em comunicado publicado no Twitter.
O comunicado dizia apoiar o direito da Turquia de se defender contra o terrorismo, mas notou a importância do respeito pelo processo legal e o direito ao protesto pacífico.
“Esperamos que quaisquer apontamentos de administradores sejam temporários e que cidadãos locais possam escolher em breve novas autoridades locais de acordo com a lei turca”, disse.
A Turquia apontou neste domingo uma nova administração em duas dezenas de municípios, principalmente no Sudeste majoritariamente curdo, enquanto faz uma campanha contra militantes do Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK).