RIO ? Há pouco menos de quatro anos, Simon Cowell, criador e jurado do programa ?X Factor?, avisava às então adolescentes Ally Brooke, Camila Cabello, Dinah Jane, Lauren Jauregui e Normani Kordei: ?Este é o momento que pode mudar a vida de vocês. Acho que juntei cinco pessoas muito talentosas. O que queremos é um grupo que vá dominar o mundo?. Com a autoridade de quem tinha recém-lançado ? no original britânico do reality musical ? o fenômeno pop One Direction, a grande boyband dos anos 2010, ele acertava de novo, com pitadas de exagero. Integrantes da versão americana do programa, elas precisaram mudar de nome duas vezes (foram Lylas, depois 1432 e, então, após uma votação on-line, Fifth Harmony). Também evoluíram como grupo vocal. E ficaram com a terceira posição, atrás do cantor country Tate Stevens e da estrela mirim Carly Rose Sonenclair. Hoje, os dois primeiros foram praticamente esquecidos pela indústria pop. Já o 5H…
Ilustre desconhecida para muitos adultos, a girlband virou um fenômeno entre adolescentes e jovens bem jovens. Basta ver o que está acontecendo nos arredores das casas de shows por onde o grupo passará entre os dias 28 de junho e 5 de julho, quando sua turnê mundial estará no Brasil. Há duas semanas ? mais de um mês antes dos shows, portanto ? os primeiros ?Harmonizers?, como são conhecidos os fiéis fãs da girlband, começaram a acampar nos locais.
? Estamos aqui 24 horas por dia, faça chuva ou sol, e só sairemos quando o show acabar ? promete Maísa Helena, de 18 anos, uma das mais atuantes no acampamento que se formou no Espaço das Américas, em São Paulo. ? Minha admiração por elas é algo que não tem explicação. Meu coração simplesmente escolheu. Elas chamam muito a atenção porque se comprometem 100% com o que fazem. É tudo movido por amor à musica.
Ally, Camila, Dinah, Lauren e Normani estiveram no Brasil pela primeira vez em outubro de 2014, como atração do Z Festival, em Brasília e São Paulo. Antes, se apresentaram no Rio. Agora, dois anos depois, as meninas voltam para shows em Curitiba, Porto Alegre, Rio, Brasília e São Paulo. E os pais que não as conheciam ainda descobriram na marra. O show no Rio, marcado para dia 1º de julho, no Vivo Rio, teve seus cinco mil ingressos vendidos em três horas. A apresentação de São Paulo também está esgotada, e as vendas das demais capitais estão adiantadas, segundo a produtora Move Concerts, responsável pela turnê. Organizados em turnos, os ?harmonizers? acampados em São Paulo até anotam o nível de sacrifício de cada fã. Os que mais contribuem para o acampamento terão preferência na hora de entrar.
Mas, afinal, como as meninas conquistaram seu público? Desde o ?X Factor?, a girlband passou por um processo similar ao de grupos como Backstreet Boys, Spice Girls, ?N Sync e, claro, One Direction, o espelho a ser seguido. Cercado por estratégias massivas de marketing, intermináveis aulas de canto e dança, e as quase infalíveis turnês por escolas e shoppings americanos, o quinteto foi crescendo e aparecendo. Seu primeiro EP, ?Better together?, saiu em outubro de 2013, alcançando a sexta posição nas paradas já na semana de estreia. Foi no intervalo entre esse trabalho e o lançamento do primeiro disco cheio (?Reflection?, em janeiro de 2015) que elas passaram por aqui.
Relembre a criação do Fifth Harmony no ‘X Factor’
? Quando vieram para o Z Festival, elas já mostraram que tinham uma base de fãs muito ativa no Brasil. E nem tinham lançado o primeiro álbum. Depois disso, estouraram no mundo todo com o single ?Worth it? e, agora, com ?Work from home? ? diz Gabriel Simas, entusiasta da música pop e diretor de comunicação digital da Move Concerts.
Anteontem, o Fifth Harmony lançou seu segundo álbum, ?7/27?, com direito a hashtag em primeiro lugar entre os assuntos mais comentados do Twitter durante o dia. Enquanto astros como Rihanna, Justin Bieber e Zayn Malik (ex-One Direction) lançaram álbuns recentes em que abrem mão do pop genérico para flertar com outros gêneros (psicodelia, trap, soul, ragga…), o Fifth Harmony segue fazendo o famoso pop de batidas para agitar as pistas de dança, sem invenções. Sete produtores e vários compositores participaram do projeto. No mesmo dia, o clipe de ?Work from home?, primeiro single do novo disco, divulgado três meses antes, já havia sido visto mais de 460 milhões de vezes. Fácil de entender, a julgar pela devoção dos fãs.
? Eu sabia que elas seriam boas, juntas. Eram cinco ótimas vozes que só precisavam de uma lapidação e preparo ? aposta o designer gráfico Lukas Castro, de 21 anos, que faz parte da equipe do site ?Fifth Harmony Brasil?, uma das principais fontes de notícias sobre o grupo no país. ? Eu vejo o quanto essas meninas batalharam pra chegar aonde estão. Elas são um exemplo de luta por espaço no mercado americano da música, que é tão concorrido que poucos conseguem sobreviver. Isso me chama atenção! Porque não foi uma explosão de um hit que trouxe reconhecimento. São quatro longos anos de busca por espaço. E isso veio desde os pocket shows em shoppings, até elas chegarem a suas próprias turnês mundiais.
Apesar de incorporado ao modus operandi da cultura pop, o quinteto busca deixar sua marca ao cantar e discursar sobre empoderamento feminino, algo reforçado em ?7/27?.
? Elas andaram por vários gêneros e trouxeram letras inteligentes e um álbum tão dançante quanto ?Reflection?. Participaram escrevendo, selecionando músicas e dando seu toque pessoal durante o processo. A minha favorita, disparado, é ?I lied?, que tem uma batida insana ? opina Lukas.