RIO ? O primeiro estudo sistemático de longo prazo sobre as superbactérias na China indica que um número assustador de pacientes pode estar infectado com micróbios resistentes aos mais poderosos antibióticos. Os pesquisadores analisaram amostras colhidas de mais de 17 mil pacientes em dois hospitais nas províncias de Zhejiang e Guandong, e 1% delas mostraram resistência à colistina, considerada a última opção em antibióticos. E para piorar, pela primeira vez pesquisadores descobriram que os genes que dão resistência às bactérias estão sendo carregadas por moscas.
O gene resistente à colistina, batizado como mrc-1, já foi detectado em 25 países, em quatro continentes. Ele surgiu pela primeira vez na China, apesar de não ser possível saber se ele evolui por lá. Diferentemente dos países ocidentais, na China a colistina não é ministrada em humanos, mas 8 mil toneladas da droga são injetadas em animais anualmente, para acelerar o crescimento de porcos e frangos. Em abril do ano passado, a prática foi banida.
O fato das cepas resistentes terem sido detectadas pela primeira vez na China, apesar de o país não fazer uso em humanos da colistina, chamou a atenção dos pesquisadores. Por isso Tim Walsh e sua equipe da Universidade Cardiff, no Reino Unido, resolveram analisar amostras de bactérias colhidas em animais nas fazendas e na carne em mercados. Os resultados mostraram que um terço das amostras de Escherichia coli eram resistentes ao poderoso antibiótico carbapenema, sendo que um quarto dessas superbactérias também resistiam à colistina.
Além disso, eles descobriram altas taxas de bactérias resistentes à colistina e ao carbapanema nas fezes de cachorros e em moscas que vivem em fazendas de produção de frango. Isso pode explicar o fato de pessoas que vivem longe de fazendas terem sido contaminadas.
O temor é que o gene resistente se espalhe ainda mais, já que as superbactérias também foram detectadas nas fezes de andorinhas dessas fazendas. Esses pássaros podem carregar as bactérias quando migram para o sudeste asiático.
?A habilidade de contaminar o ambiente traz imensas preocupações para a saúde pública?, dizem os pesquisadores, em estudo publicado nesta segunda-feira na ?Nature Microbiology?.
Após sequenciamento de DNA, os pesquisadores perceberam que as bactérias encontradas nas fazendas de frango, mercados e em humanos são as mesmas, o que indica que a resistência aos antibióticos deve ter surgido nas fazendas e depois se espalhado para as pessoas.