Cotidiano

Mitch Altman, hacker e inventor: 'Não nos dedicamos a entender o sentido da vida'

“Nasci nos Estados Unidos, tenho 59 anos. Eu sou um viciado em TV. Passei a primeira metade da minha vida fazendo muito pouco porque eu ficava obcecado em frente a uma tela de TV. Depois, por 15 anos, fui consultor de uma fábrica de cigarros… Até que sai e me dei um ano. De repente, me vi com tempo livre.”

Conte algo que não sei.

A única coisa que eu realmente sei é que eu não sei nada. Esse é um bom começo para entender que há muito a aprender. O que eu acho que as pessoas não sabem muito é como viver em comunidade. Neste nosso mundo moderno, a gente não está muito focado nisso. Acho que o caminho agora é nos unirmos para criar ferramentas para viver neste ambiente cada vez mais inóspito. A gente precisa perceber que a nossa vida vale a pena. Hoje, cada vez menos pessoas acreditam que suas vidas tenham importância para o mundo.

Por quê?

Somos cheios de obrigações em nossas vidas, responsabilidades… isso não é ruim, mas estamos tão tomados pelas tarefas que não nos dedicamos a compreender o sentido de nossas próprias vidas. Por isso, toda vez que a gente se reúne, mesmo que seja apenas para criar pequenas coisas, como uma luz que pisca ou um origami, nós sentimos que fazemos parte de algo maior. Isso já nos faz se sentir bem.

Por que as pessoas, às vezes, não conseguem trabalhar coletivamente?

Isto é fruto da escola. A escola não nos ensina a viver a vida que a gente gostaria de viver. Prepara a gente para enfrentar provas, ter um diploma e procurar um emprego. Em especial, só alguns tipos de trabalho, não todos. Trata mais do que a gente faz do que sobre quem é a gente é. Nós somos criaturas sociais.

Se pudesse inventar alguma coisa agora, o que você inventaria?

Minha principal invenção foi um mecanismo que desliga praticamente todos os modelos de aparelhos de TV. Como já não temos muito tempo, se usamos nosso pouco tempo para ver TV, nossa vida vale menos ainda. Eu dei às pessoas a opção de ter mais tempo para viver suas vidas, sem precisar ficar o tempo todo em frente a uma TV. Tem uma invenção que eu gostaria de fazer, mas não é possível.

O que seria?

É, de forma mágica, fazer com que as pessoas tenham apenas uma escolha e passem a se dedicar a ela para fazer com que sua vida tenha mais sentido.

Mas como saber se esta é a melhor escolha?

Não sei se seria a melhor escolha, mas uma escolha. Se ao menos as pessoas fizessem uma escolha, acho que a vida já seria um pouco melhor.

O que ou quem você desligaria imediatamente?

Mais importante que desligar, é saber que as pessoas podem escolher desligar. É o caso da TV, que provoca dependência.

Você tem então uma questão pessoal com a TV.

Sim, sem dúvida. Talvez possamos pensar em fazer algo parecido (ao dispositivo que desliga qualquer TV) em relação aos telefones, mas isto é ilegal. De outra forma, eu desenvolveria um mecanismo para desligá-los. Quantas vezes hoje em dia nós vamos ao restaurante e observamos amigos, famílias inteiras, sentados, olhando apenas para o smartphone, em volta de uma mesa! Isso me impacta bastante.

O que é ser um hacker?

Os caras que invadem computadores para roubar não são hackers. São criminosos. Hacking é atuar para mudar uma situação explorando os recursos disponíveis. O hacker, na verdade, pode ajudar a transformar o mundo em um lugar melhor.