SÃO PAULO ? Após o fim do discurso de Raduan Nassar, que ao receber hoje o Prêmio Camões de Literatura criticou o governo brasileiro, o ministro Roberto Freire se manifestou e acabou batendo boca com a plateia. O político reagiu ao coro de “Fora Temer”, puxado por parte do público após Raduan ter, entre outras coisas, ter chamado Freire de “ministro do governo em exercício”. O autor de “Lavoura arcaica”, normalmente recluso, também comparou as recentes decisões do STF com o passado da ditadura militar e definiu o impeachment como “golpe consumado”.
Em clima de constrangimento geral, Freire tomou a palavra logo após Raduan e chamou a narrativa do golpe de “estultice”. Disse que “estamos vivendo um momento democrático e que é muito diferente do período de ditadura” e, após ser vaiado e contestado por parte do público que lotou o pátio do Museu Lasar Segall, criticou os manifestantes dizendo que “é fácil fazer manifestação num governo como este, democrático”. Ele chegou a ser interrompido por críticos como a ex-ministra Marilena Chauí, mas continuou:
? Quem dá prêmio a adversário político não é a ditatura. Quem dá prêmio a adversário político não é a ditatura
Disse ainda que “o prêmio é dado pelo governo democrático brasileiro e não foi rejeitado” pelo autor. O Camões é concedido pelos governos de Brasil e Portugal, e foi oferecido a Raduan em maio, ainda durante o mandato de Dilma.
Em março do ano passado, Raduan participou de um ato público, junto com outros artistas, para defender a legalidade do governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Na época, o processo tramitava no Congresso Nacional.
Mais importante prêmio da língua portuguesa, o Camões concedido anualmente a um escritor de língua portuguesa. Aos 80 anos, Raduan foi escolhido por unanimidade e se tornou o 12º brasileiro a receber o prêmio, considerado o mais importante da língua portuguesa. Receberá 100 mil euros.