LISBOA ? À entrada do salão nobre da Academia das Ciências de Lisboa, uma divisão em talha dourada, tetos altos e rodeada de enormes estantes com livros antigos, está uma simples mesa de madeira e um livro aberto. No topo da página lê-se ?Sessão Académica da Classe de Letras de 24 de Novembro de 2016?, mas a novidade vem mais abaixo: pela primeira vez, a assinatura do jornalista e acadêmico Merval Pereira juntou-se às dos seus confrades portugueses, no dia em que foi até Lisboa tomar posse e receber o diploma de sócio correspondente brasileiro desta instituição bicentenária.
Em seu discurso de posse, o colunista do GLOBO Merval Pereira ? membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 2011, onde ocupa a cadeira número 31 ? destacou a importância dos valores comuns estabelecidos entre as culturas brasileira e portuguesa e, em tempos difíceis e de revolução tecnológica intensa, aproveitou a ocasião para fazer um vasto elogio à sua profissão:
? É como jornalista que me apresento a esta Casa, momento de reafirmar conceitos e valores. Acredito ser imperativo ético da profissão a responsabilidade com o cidadão. Embora seja impossível chegar à verdade completa, por ela ser, por definição filosófica, inexaurível, a busca permanente da verdade e a defesa das liberdades de pensamento e de expressão, que consubstanciam a Democracia e o Estado de Direito, devem ser tarefas cotidianas dos jornalistas.
Autor de ?A Segunda Guerra: sucessão de Geisel??, com André Gustavo Stumpf (Brasiliense, 1979), ?O lulismo no poder?? (Record, 2010), e ?Mensalão ? O dia a dia do mais importante julgamento da história política do Brasil?? (Record, 2013), entre outros, Merval recebeu a distinção numa cerimônia realizada ontem na sede da Academia, em Lisboa, com a presença do presidente da instituição, Artur Anselmo; do embaixador do Brasil em Portugal, Figueiredo Machado, do embaixador do Brasil na Comunidade de Países da Língua Portuguesa (CPLP), Gonçalo Mourão; e do jornalista e confrade português António Valdemar, que ficou responsável pelo elogio público ao jornalista e escritor.
? Merval foi eleito por unanimidade de votos (em abril), tendo em conta a importância da obra publicada e os seus consagrados méritos profissionais. O seu nome evidencia-se enquanto grande repórter e protagonista por excelência do maior universo de comunicação do Brasil e da América Latina. Gera impacto nacional e internacional ao posicionar-se perante os complexos problemas da política e das sociedades modernas ? declarou António Valdemar.
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Figueiredo Machado ressaltou o reconhecimento de Portugal em relação ao ?homem que exerce a sua profissão tendo sempre como norte o fundamento democrático do direito do cidadão a ser informado?. Já Gonçalo Mourão destacou a importância da homenagem a alguém ?que vive da expressão viva da língua portuguesa, e é dessa língua que vive a nossa comunidade.?
Merval ? membro titular da Academia Brasileira de Filosofia e do Board of Visitors do John S. Knight Fellowships da Universidade Stanford ? terminou o seu agradecimento lembrando que vivemos no tempo da ?pós-verdade? e que resta ao jornalista lutar pelos valores sem os quais não pode existir, sobretudo a liberdade.
A Academia das Ciências de Lisboa foi fundada em 24 de dezembro de 1779, sob proteção da rainha D. Maria II. O objetivo da instituição é promover a ciência, a arte e o ensino, tendo como integrantes nomes consagrados das disciplinas que representa.
Atualmente, entre os seus membros honorários estão personalidades como o ex-presidente de Portugal Mário Soares, o filósofo Eduardo Lourenço e a escritora Agustina Bessa-Luís.
