BRASÍLIA Apesar de ser interpretado por alguns como um bom indicativo de que o presidente interino, Michel Temer, se diferencia do governo anterior, as demissões rápidas de ministros pegos em irregularidades têm levado insegurança e preocupação aos titulares da Esplanada dos Ministérios. Com cinco ministros investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e dois citados na Operação Lava-jato, o medo da degola a qualquer momento, por pressão da opinião pública, tem levado a um clima de apreensão e de críticas ao que chamam de fraqueza de Temer.
Na reunião ministerial, logo depois da posse, Temer avisou a seus ministros: quem errar, está fora do governo.
Meu governo será implacável com quem cometer ilegalidade afirmou.
O primeiro a cair foi o ex-ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR), logo após a divulgação do grampo em que aparece conversando com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, dizendo que o impeachment estancaria a sangria.
Na última segunda-feira foi a vez do ministro da Transparência, Fabiano Silveira, também flagrado em conversa gravada por Machado em que orienta o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em sua defesa nas investigações da Operação Lava-Jato. Após a divulgação da conversa houve uma onda de manifestações de servidores da Controladoria-Geral da União e de partidos da nova oposição, encabeçada pelo PT.
Em menos de 12 horas, Fabiano estava fora. Temer não segurou a pressão e aceitou sua demissão, como ocorreu também com Jucá. Agora muitos acham que estão na corda bamba.
Acho um risco esta atitude do presidente Michel. Muitos tem problemas. Isso só vai valer para a Lava-Jato? Eu, pessoalmente, não teria cedido. Mas não estou nas calças dele desabafou um dos ministros mais estratégicos da Esplanada.
MEDO DE DELAÇÃO DE SÉRGIO MACHADO
De volta ao Senado, Romero Jucá a primeira vítima das saída imediatas diz que o governo interino de Michel Temer sofreu um ataque especulativo, em que todo dia os adversários criam um fato para tumultuar. Mas pede calma aos ministros e avalia que dentro de 45 dias Temer terá se livrado desses ataques, e o governo começará a se desenvolver naturalmente. Jucá diz que partiu dele e de Fabiano Silveira a decisão de se afastar para estancar os ataques a Temer.
Enquanto o processo do impeachment estiver aberto vai ter ação e reação todo dia. Todo ministro é demissível ad nuto, mas qualquer investigação tem que esperar o resultado. Tem que ter calma. Se depender da oposição não vai acalmar. Mas o jogo segue diz Jucá.
O chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, minimiza a preocupação dos ministros com o tema:
Ele, Temer, disse isso antes da posse. Não há surpresa.
O que tem levado pânico à Esplanada são os grampos feitos por Sérgio Machado como parte de sua delação premiada. Foi exatamente uma gravação do ex-presidente da Transpetro e ex-senador que tirou Jucá da Esplanada.
O clima é só de defender das Machadadas, e seja o que Deus quiser diz o líder de um dos partidos da base que tem ministros na Esplanada.
As citações envolvendo nomes da Esplanada são variadas. O ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), é investigado no Supremo Tribunal Federal no âmbito da Lava-Jato. No ano passado, sua casa chegou a ser alvo de busca e apreensão pela Polícia Federal.
Citado em uma das delações premiadas por supostamente defender interesses da construtora OAS, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima se defendeu dizendo que é uma citação banal. O ministro do núcleo mais próximo a Temer afirmou ainda que qualquer integrante do governo que for citado na delação da Odebrecht terá de dar explicações.
Maurício Quintella (Transportes) responde a processo por suspeita de fraudes em merenda escolar quando foi secretário de Educação em Alagoas. Ricardo Barros (Saúde) é investigado por fraude em licitações na prefeitura de Maringá (PR).
Há casos de ações de improbidade, herdados de administrações passadas. José Serra (Relações Exteriores) responde por fatos de quando ocupou o Ministério do Planejamento no governo Fernando Henrique. Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia e Comunicações) é alvo também de ações de improbidade relativas à sua gestão como prefeito de SP.
FUTURO DA AGU SERÁ DEFINIDO NA SEGUNDA
Michel Temer se reunirá na segunda-feira com o ministro Eliseu Padilha para definir a situação do chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Fábio Medina Osório. O colunista Jorge Bastos Moreno, de O GLOBO, informou sábado que Temer decidiu demitir Osório depois que ele se envolveu em uma confusão ao tentar embarcar em um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) para Curitiba.
O presidente interino descobriu ainda que o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, só revogou sua decisão de demitir o presidente da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), Ricardo Melo, nomeado pela presidente afastada Dilma Rousseff, porque o advogado-geral da União, que deveria fazer a defesa do governo, estava na viagem a Curitiba. Osório é afilhado político do ministro da Casa Civil.
Já preparei o presidente de que havia a nota e ficamos de voltar a conversar na segunda-feira. O governo não resolve suas questões por intermédio da imprensa. O governo resolve suas questões internamente. Quando se joga para fora acaba prejudicando, porque expõe o governo a um debate que não precisa existir, seja para ele ficar ou para não ficar disse Padilha ao GLOBO.
No sábado, Osório negou qualquer tipo de embaraço com a FAB. Em nota, a assessoria do advogado-geral da União disse que ele tem prerrogativa legal para requisitar os serviços da Aeronáutica e que não houve problema durante o embarque para Curitiba. Sobre a decisão de Toffoli, Osório afirmou também que não cabia a ele “elaborar nota técnica de defesa do ato” porque a “AGU tem que atuar com distanciamento, na medida em que há dois atos de Presidentes da República, sob questionamentos”.