Cotidiano

Medida da Câmara é ?tapa na cara?, diz presidente de associação de membros do MP

SÃO PAULO – A presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), Norma Cavalcanti, classificou como ?um tapa na cara? a decisão da Câmara de incluir o projeto a tipificação do crime de abuso de autoridade para magistrados e integrantes do Ministério Público no relatório de medidas de combate à corrupção. Ela afirma que a associação está trabalhando para sensibilizar os senadores a corrigerem o texto.

Leia abaixo o depoimento da presidente da associação ao GLOBO:

?Na realidade nós estamos sendo punidos pelos nossos acertos, e não pelos nossos erros. Essa medida tomada pela Câmara é uma retaliação aos trabalhos da Lava-Jato e do Ministério Público em geral. É pura retaliação, um tapa na cara de juízes e promotores que investigam e atuam no combate à corrupção.

Fomos pegos realmente de surpresa, houve um desvirtuamento das 10 medidas. Quem estava investigando os corruptos vai passar a ser investigado.

É um absurdo, é uma retaliação, uma mordaça às duas instituições – magistratura e Ministério Público – com intuito de nos inibir de trabalhar em prol do Brasil. A gente entendeu como tapa na cara e retaliação, retrocesso e mordaça ao sistema de justiça brasileiro.

Esperamos que o Senado corrija esses desvios, retornando o projeto à Câmara. Já temos as nossas corregedorias, o Conselho Nacional de Justiça que pune sistematicamente. O que eles querem é nos transformar em réus automaticamente e dizer: ?nós estamos aqui olhando para vocês. Não denunciem, não trabalhem, arquivem tudo?. E isso nós não podemos fazer. Corruptos não passarão. Continuaremos trabalhando, não ficaremos intimidados.

Somos solidários aos colegas que atuam na Lava-Jato bem como ao trabalho do juiz Sérgio Moro. Será lamentável para o país caso uma decisão dessa (a renúncia da força-tarefa) venha a ocorrer. Então, esperamos que o Parlamento brasileiro corrija essa retaliação à Lava-Jato e a todos que trabalham com essa operação e deem ao povo brasileiro a esperança de dias melhores.

Estamos trabalhando com os senadores para que ouçam a voz das ruas e respeitem a vontade popular, já que esse projeto teve apoio de mais de 2 milhões de pessoas. Caso isso não ocorra, temos meios de ajuizar ações pedindo a inconstitucionalidade desse projeto bem como ainda pedir que o próprio presidente vete essas alterações?.