RIO ? Com a discussão sobre a reforma das regras da aposentadoria e desemprego em alta, falar sobre reservas financeiras torna-se urgente. Mas, a maioria dos brasileiros ainda não guarda dinheiro. É o que informou a pesquisa divulgada nessa terça-feira pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), segundo a qual 62% dos consumidores afirmam não guardar dinheiro e nem possuir uma reserva. Já cerca de 29% guardam apenas o que sobra do orçamento e somente 7% reservam um valor fixo por mês, ou seja, 36% têm o costume de guardar alguma quantia.
O estudo também mostra que há diferenças entre classes sociais: os poupadores nas classes A e B, independentemente de o valor ser fixo ou não, somaram 58% dos entrevistados; já nas classes C, D e E são 30%.
USO DA RESERVA FINANCEIRA EM DEZEMBRO
Os entrevistados também foram questionados sobre a poupança que fizeram no mês de dezembro. A pesquisa indica que 75% não conseguiram reservar nada de sua renda, contra 23% que conseguiram. Nesse quesito também há diferença entre as classes sociais: nas classes A e B, o percentual de poupadores foi de 36%, enquanto nas classes C, D e E foi de 19%. Entre os poupadores guardou-se, em média, a quantia de R$ 480,85 no mês.
?É notável que a maioria dos brasileiros não reservou parte de seu dinheiro em dezembro, inclusive quem pertence a classes de alta renda. A crise econômica certamente tem seu papel no resultado da baixa poupança. Com o crescimento do desemprego, o orçamento familiar tornou-se mais apertado e, em alguns casos, insuficiente até para honrar compromissos já assumidos?, explica Roque Pellizzaro, presidente do SPC Brasil.
De acordo com os dados, mesmo entre os poupadores habituais, 46% precisaram dispor de sua reserva financeira em dezembro. Os principais motivos foram o pagamento de dívidas (13%), despesas extras (11%), de contas da casa (12%), imprevistos (4%) e também o consumo (8%).
O levantamento ainda mostra que a maior parte dos poupadores busca proteger-se contra imprevistos como doenças e/ou morte de entes (43%) ou mesmo o desemprego (31%). Há também 27% que poupam pensando em garantir um futuro melhor para a família e 24% que poupam pensando na realização de um sonho de consumo, 23% citam os planos de viajar e 18% mencionam a compra ou quitação da casa.
A reserva financeira com foco na aposentadoria foi citada apenas por 17% dos entrevistados. ?A longo prazo, a falta de preparo cobra seu preço. Sem constituir uma reserva ao longo da vida, muitos idosos são obrigados a rever seu padrão de consumo ou acabam na dependência de terceiros. Em tempos de discussão sobre a reforma das regras de aposentadoria, o tema torna-se ainda mais urgente.?, indica a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
POUPANÇA É O PRINCIPAL DESTINO
A pesquisa ainda revela que o principal destino do dinheiro reservado ainda é a caderneta de poupança, citada por 62% dos entrevistados. E 20% dos poupadores ainda guardam dinheiro em casa. Os fundos de investimento foram mencionados por 10% e a Previdência Privada por 6%. A lista segue com outras opções de investimento como renda fixa e Bolsa de Valores, mas todos citados por menos de 5%.
?Se o investidor opta por uma aplicação de menor rendimento quando há outros que oferecem retornos maiores, é como se ele estivesse perdendo dinheiro. Nos últimos anos, quem optou pela poupança, teve parte de seu dinheiro corroído pela inflação ou, no máximo, alcançou um rendimento real muito baixo?, segundo Kawauti. ?No caso de quem manteve o dinheiro em casa, as perdas foram ainda maiores?, conclui a economista.
*Estagiária, sob supervisão de Lucianne Carneiro