Cotidiano

Mãe síria em cidade sitiada é a mais nova super-heroína da Marvel

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RIO ? Sitiada pelo governo sírio por dois anos, a cidade de Madaya teve pouco contato com o mundo exterior. Se os comboios de ajuda têm dificuldade para acessar o local, para os jornalistas é praticamente impossível. Por isso, a ABC News e a Marvel Comics, conhecida por seus super-heróis musculosos, se uniram para encontrar outra maneira de ajudar o mundo a ver a realidade devastadora da vida sob cerco.

Jornalistas da ABC estiveram em contato com uma mulher vivendo em Madaya – cidade de cerca de 40 mil habitantes, perto da fronteira com o Líbano. Ela relatou em um blog a sua luta para sobreviver às condições adversas provocadas pela guerra civil síria, que já dura mais de cinco anos.

As duas empresas criaram uma história em quadrinhos digital baseada nos relatos anônimos da jovem mãe de cinco filhos ? uma maneira de tentar demonstrar os horrores a que as suas câmeras não têm acesso. Em vez de sangrentos, os quadrinhos ilustrados são de partir o coração. Combinados com as palavras fortes da mãe ? mantida em anonimato para proteger a segurança da sua família ? eles falam sobre as graves dificuldades que as famílias encurraladas estão sofrendo.

Desde que Madaya ficou sob cerco total, em meados de 2015, mais de 60 pessoas morreram de fome e desnutrição.

? Nossos corpos não estão mais acostumados a comer ? diz um quadrinho. ? Meus filhos estão com fome, mas estão ficando doentes, com fortes dores estomacais causadas pela comida porque seus corpos não são capazes de digerir e absorver a comida, porque estiveram com fome por tanto tempo.

SEM SENSACIONALISMO

O artista Dalibor Talajic disse que se esforçou para que o resultado dos quadrinhos não fosse sensacionalista.

? Eu não queria fazer uma história em quadrinhos de guerra ? disse o artista croata, que viveu durante a dissolução da Iugoslávia, em 1991. ? Eu queria fazer uma história em quadrinhos com um ponto de vista civil, onde você é realmente impotente. Você não pode fazer nada. Você está apenas esperando que isso passe ou que você morra.

Nos quadrinhos, a brutalidade da vida cotidiana sob cerco é ocasionalmente quebrada com relatos de momentos de convívio e de pequenos prazeres roubados. Por exemplo, após um longo período fechada, a escola reabriu, para a felicidade das filhas da “mãe de Madaya”. Pouco depois, o local é atingido por uma bomba que destrói vários de seus companheiros perante os seus olhos.

? Esta é uma mãe, mas é todas as mães ? disse Talajic. ? É uma família, mas são todas as famílias. Se um dia ela conseguir sair, os desenhos irão para ela.