BUENOS AIRES – Em meio a uma crise energética e a uma disputa judicial para frear os fortes aumentos de gás e outros serviços básicos, o presidente da Argentina, Mauricio Macri, pediu ontem que a população consuma o mínimo possível de energia.
? Hoje tenho de pedir a todos vocês que, por favor, entendam que a Argentina precisa que sejamos responsáveis e que consumamos menos energia ? afirmou Macri em um ato para anunciar um novo plano de moradias.
O presidente argentino fez o pedido horas antes de seu governo defender os aumentos que resultaram em protestos em todo o país e que levaram a Justiça a suspender a aplicação dos novos preços até que a Suprema Corte se manifeste hoje.
? Quando vocês estiverem em casa no inverno e se virem de camiseta ou de pé no chão, é porque estão consumindo energia demais ? disse o presidente argentino.
Ao pedir que se agasalhem em vez de usar os sistemas de calefação a gás ou eletricidade o dia todo, Macri ressaltou:
? Consumam o mínimo de energia necessária.
TARIFAS SUBIRAM ATÉ 2.000%
Com as revisões tarifárias a mando de Macri, houve altas entre 300% e 2.000% nas tarifas, que afetaram a classe trabalhadora em um país com um salário mínimo de cerca de US$ 450 (cerca de R$ 1.500). Algumas faturas de energia elétrica na capital saltaram de US$ 4 (o que corresponde a cerca de R$ 13) para US$ 32 (R$ 106). No caso da conta de água, o avanço foi de US$ 16 (R$ 53) para US$ 60 (R$ 198).
O novo presidente também cortou subsídios, com exceção de casos de pessoas em extrema pobreza, que recebem um auxílio por filho, e aposentados que recebem salário mínimo.
Mas o pedido de Macri para que os argentinos vistam mais agasalhos gerou reações nas redes sociais e em canais de televisão. Esses meios reproduziram imagens recentes do presidente junto à sua esposa, Juliana Awada. O casal aparece assistindo à final da Copa América Centenário, há duas semanas, vestindo roupas leves na sala da residência dos dois, apesar de ser uma noite de inverno bastante fria.
? Do nosso rol de oposição construtiva, recomendamos suspender os aumentos e alcançar com o estudo que merece uma medida de semelhante calibre ? criticou Sergio Massa, deputado opositor do partido Frente Renovador, que concorreu a presidência do país no ano passado, contra Macri.
As reclamações à Justiça sobre o aumento das tarifas foram apresentadas por usuários, pequenos empresários, clubes de bairro e até mesmo províncias inteiras da Patagônia, onde o frio faz estragos.
Macri impulsionou os aumentos a partir de março, com argumento de que as tarifas estavam defasadas, culpando os dois governos kirchneristas (2003-2015), que subsidiavam as tarifas com as receitas de altos impostos aos contribuintes.
O próprio ministro de Energia, Juan José Aranguren, já lamentou ?a judicialização? dessas medidas.