SÃO PAULO ? O novo filme do diretor italiano Paolo Virzí, ?Loucas de alegria?, nasceu no set de seu filme anterior, ?Capital humano? (2013), todo rodado na Toscana. Virzí conta que viu sua mulher, a atriz Micaela Ramazzotti, e Valeria Bruni Tedeschi andando de mãos dadas pela locação. A imagem despertou nele a ideia de duas amigas, de origens e estratos sociais diferentes, que se unem para fugir de uma instituição de reabilitação mental onde foram colocadas pelas famílias. O longa inaugura no próximo dia 25 a mostra 8 ½ Festa do Cinema Italiano, que reúne sete títulos. A retrospectiva acontecerá até o dia 31 em sete capitais, incluindo o Rio, onde será exibida no Espaço Itaú Botafogo.
? Aquilo me deu vontade de apontar a câmera para elas. E de pensar um filme para ambas, que são duas grandes atrizes. O primeiro desejo foi fazer algo em torno da doença mental, de como essas pessoas têm suas alegrias e seus desejos de viver aprisionados, como são excluídas da convivência social por causa de preconceitos. Foi um ano de pesquisa sobre tudo isso ? diz ele, em entrevista por telefone a O GLOBO, de Atlanta, onde roda sua primeira produção em inglês, ?The leisure seeker?, com Donald Sutherland e Helen Mirren.
cinema para reparar arestas
Mais do que uma homenagem às atrizes, no entanto, ?Loucas de alegria?, que tem estreia em circuito comercial prevista para 1º de setembro, investe contra a ditadura do bem estar psicológico e a busca incessante por justificativas psicopatológicas para todos os males. Para Virzí, a elite consegue passar incólume por essas exigências, mas o mesmo não acontece com as camadas mais humildes:
? Somos grandes consumidores de psicofármacos. Se pudéssemos imaginar no que estão apostando os grandes investidores, depois de colocarem suas fichas nas dívidas dos países, creio que estariam apostando nas grandes indústrias farmacêuticas que produzem remédios ansiolíticos, antidepressivos e outros. Eu queria descobrir um outro ponto de vista, dessas pessoas que são presas e mandadas para o manicômio. Elas são privadas de convivência social. E o mundo fora da instituição não está melhor. Está mais cruel e mais feio. O cinema pode servir pelo menos a isso. Para reparar essas arestas ? afirma o diretor.
Além de ?Loucas de alegria?, a mostra vai exibir mais seis longas da produção italiana recente. Entre os principais destaques estão ?As confissões? (2016), de Roberto Andó, com Toni Servillo no papel de um monge convidado a participar de um encontro do G8 ? o ator está na seleção também com ?As consequências do amor? (2004), de Paolo Sorrentino. Outro título esperado é ?Amor eterno? (2015), de Giuseppe Tornatore, diretor premiado de ?Cinema Paradiso?, com Olga Kurylenko e Jeremy Irons vivendo um romance aparentemente impossível. ?Não seja mau? (2015), de Claudio Caligari, sobre a relação entre dois jovens da periferia de Roma, foi indicado para representar o país na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro. Completam a seleção a ficção científica ?Meu nome é Jeeg Robot? (2015), de Gabriele Mainetti, e a comédia ?Paro quando quero? (2014), de Sydney Sibilia.