RIO ? Levando a sério o ditado “é melhor rir para não chorar”, o ritmo de criação de marchinhas de carnaval e paródias musicais inspiradas nos escândalos políticos cresce ano após ano, na mesma velocidade em que a Operação Lava-Jato revela atos de corrupção de empresários e políticos.
Desde o final do ano passado, quando surgiram as primeiras informações da delação de executivos da Odebrecht envolvendo dezenas de congressistas com apelidos inspiradores, foram criadas marchinhas para todos os gostos e colorações partidárias.
A galhofa política já se tornou até mesmo rentável para o grupo “Os #Marcheiros”, formado pelo advogado Thiago de Souza e o músico Daniel Batistonne, que abriram o caminho com a marchinha do “japonês da federal”, em alusão ao policial federal Newton Ishii que acompanhava os presos da Lava-Jato em Curitiba.
No final de semana, o grupo divulgou no seu canal do Youtube a marchinha “Libera o Cunha, doutor”. Os versos satirizam uma possível delação premiada do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Marchinha Libera o Cunha, Doutor
“O Cunha está de bico/ Não querem lhe soltar/ E por terem dedado o Cunha, o Cunha agora é quem vai dedar/ Mesmo estando sujo na rodinha, o Cunha vai se abrir/ Vai ser um rebosteio em Brasília/ Do Cunha muita coisa vai sair/ Libera o Cunha, doutor. Libera o Cunha, doutor/ Que ele conta tudo pro senhor”, diz a letra mais recente dos Marcheiros.
? Componho quando leio o noticiário ? conta Souza.
E como o noticiário de escândalo político é diário, não falta inspiração.
Ontem, o líder do governo, senador Romero Jucá, inspirou novamente o grupo. O peemedebista disse que se o STF mudar as regras para o foro privilegiado para políticos essa nova regra teria que abranger também procuradores e juízes, que também têm prerrogativa de foro, o que lhes permite serem julgados apenas em tribunais superiores. Para tratar do tema, Jucá disse que “suruba é suruba”, que não existe “suruba selecionadada”.
A paródia de uma música do grupo Mamonas Assassinas caiu como uma luva para a “Suruba do Caju”. A fruta é o apelido de Jucá na delação da Odebrecht. E já foi para o canal no Youtube hoje.
No começo do mês, quando o presidente Michel Temer nomeou o ministro Moreira Franco para a Secretaria-Geral e o ato foi questionado pela oposição, o advogado-compositor fez a marchinha “Meu Angorá”
A letra provocativa diz assim: Meu angorá, chega pra cá/ Fica pertinho assim/ Meu angorá, chega pra cá, vem fazer miau pra mim/ Gatão, que eu não vivo sem, vejo que está bem num cantinho só seu/ Niguém assim atira pau no gato/ E quem reclama desse fato eu não quero nem saber/ Muitos outros estão no telhado, mesmo sendo arriscado despencarem de lá/ Mas você estando protegido, bichano querido, eu fico feliz.
Outro ministro de Temer a se tornar alvo do grupo foi Alexandre Moraes, que está licenciado do Ministério da Justiça desde que foi indicado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal.
A marchinha do “Ministro Careca” faz referência ao penteado de Moraes: “O ministro pode ser careca/ Mortadela ou bicudo/ Mas se livrar da cana, ele está com tudo”.
Souza diz que evita escolher uma matiz política para atacar, porque considera que ser for “republicano” nas ironias pode ficar mais livre para criar. Ele lembrou, porém, que quando eles criaram “japonês da federal” sentiu alguma retaliação.
? Quando fizemos o japonês da federal ficamos um pouco estigmatizados, principalmente no meio cultural, que é mais ligado ao campo da esquerda ? contou.
Essa marchinha, aliás, fez surgir também convites para participar de manifestações contra a corrupção e pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Souza diz se “orgulhar” de não ter aceitado.
Segundo ele, os mesmos grupos políticos ou veículos de imprensa mais ligados à esquerda que criticaram a marchinha do “japonês da federal” comemoraram e postaram outra criação do grupo, o ?Presidento Transilvânia?, que fala sobre o impeachment com críticas ao presidente Temer e colocando Dilma como “uma donzela inocente”.
Em Minas Gerais, o concurso de marchinhas Mestre Jonas, que ocorre anualmente no início do carnaval de Belo Horizonte, escolheu o “Baile do Cidadão de Bem” como tema desse ano.
A marchinha ironiza os manifestantes contra a corrupção, lembrando que eles cometem infrações diárias apesar de se manifestarem contra o crime de colarinho branco.
O refrão diz assim: “Veja só quem vem/ É o cidadão de bem, é o cidadão de bem!/ Contra a corrupção, taça de champagne na manifestação”.
Outras marchinhas com cunho político também concorreram e foram premidas.
Souza, que também é compositor de sambas enredo, lamenta a falta de compreensão da sociedade atual com o humor político.
? Poxa, o Casseta e Planeta, o Jô Soares e o Chico Anísio faziam isso e não havia essa reação negativa na sociedade ? argumentou.
RIO TEM CENÁRIO INSPIRADOR
No Rio, com escândalos levando para cadeia dois ex-governadores (Sérgio Cabral e Anthony Garotinho) e o ex-bilionário Eike Batista o que não falta é inspiração.
Os #Marcheiros fizeram três marchinhas inspiradas nesses escâncandalos. Uma das mais recentes é a “Hotel Bangu”:
“Não se fala de outra coisa/ Sucesso em toda zona sul/ Entre os vips é última moda, se hospedar no Hotel Bangu/ Os aposentos são uma joia, vem ficar aqui também/ Quem sabe o senhor e a senhora encontram Paes no nosso espaço/ Vem/ Magnata já tem reserva/ Primeiras-damas desfilam com esplendor/ Tenha o prazer de conhecer a reformada e luxuosa suíte do governador/ Não se fala de outra coisa, sucesso em toda zona sul”.
Eike também foi lembrado pelo novo visual em “Do Eike careca eles não gostam mais”.
“O Eike nunca foi munheca/ Bancava tudo para os maiorais/ Agora na hora do aperto/ Do Eike careca eles não gostam mais”, diz a letra.
Nem mesmo o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), escapou dos autores. Apelidado de “Botafogo” por um dos delatores da Odebrecht, o parlamentar também foi homenageado com uma letra inspirada no hino botafoguense.
“Botafogo, Botafogo/ 1 milhão recebeu da empreiteira OAS/ Foste sempre demagogo, Botafogo”, diz um trecho da sátira.
Veja abaixo o link com os mais vídeos das marchinhas de cunho político:
Marchinha Tributo ao Garotinho
Marchinha Presidento Transilvânia
Marchinha Do Eike careca eles não gostam mais