RIO ? Motocicletas custom devem ter visual clássico e ornamentado ou serem ?bandidas? no estilo ?sem destino?, certo? Pois é, mas em 2001 a Harley-Davidson virou essas receitas pelo avesso ao lançar a V-Rod, com estilo agressivo e elementos de naked. Desde então, outras fabricantes aplicaram esse tempero moderno da V-Rod nas motos. O sucesso nas vendas ainda é limitado (as clássicas continuam as preferidas nesta seara) mas, na pista, notam-se vantagens. A Kawasaki Vulcan 650 S tem exatamente estes ingredientes de ?power custom? e supera as expectativas.
O visual é de V-Rod em miniatura: temos um farol quase triangular, mas com cantos arredondados e envolto por uma moldura preta fosca, para-lama dianteiro pequeno e rabeta compridinha. As rodas de liga leve, o discreto escape dois-em-um, as barras horizontais do quadro e o grande radiador ali na frente reforçam a aparência modernosa.
A lembrar que estamos diante de uma custom, só o tanque em forma de gota, os bancos do piloto e do garupa separados por um degrau vistoso e o guidom proporcionalmente alto com espelhos destacados. Nada a ver, portanto, com as atuais Vulcan 900, que preservam o estilo clássico das custom e que são as herdeiras diretas das Vulcan 500, 800 e 1.500 da década de 90.
Motor multiuso
A pimenta do rancho é o motor: ali no meio do quadro vai um dois em linha bem conhecido ? o mesmo da trail Versys 650, da naked ER-6N e de sua versão carenada Ninja 650. Com 649cm³, 61cv de potência e 6,4kgfm de torque, tem faixa de uso estreita e é feito para girar alto, impressionando mais pela velocidade do que pela arrancada ? justamente o contrário do perfil dos motores V2 das custom tradicionais.
Vale destacar, ainda, que o quadro e o motor também são compartilhados, assim como a interessante suspensão traseira monochoque lateral (e com pré-carga da mola ajustável em sete níveis!).
Não temos aqui cromados e acabamentos visuais de ostentação. É tudo lógico e prático, como mostra o pequeno mas completinho painel de instrumentos ? há apenas um relógio, com conta-giros analógicos em cima e mostrador digital embaixo, exibindo velocidade, hodômetros total e parciais A e B, e ainda informações relevantes como o consumo médio. As espias ficam nos dois cantinhos do quadro.
O conjunto é honesto e acaba sendo coerente com o preço. A moto custa R$ 27.290 (ou R$ 31.490 com ABS) ? não é barata, mas vale lembrar que não tem rivais diretas. No degrau de baixo jaz a solitária Dafra Horizon 250, de R$ 17 mil e características bem inferiores. Acima, as mais próximas seriam Suzuki Boulevard 800, de R$ 36 mil, Yamaha Midnight Star 950, de R$ 40 mil, e Harley Iron 883, de R$ 43 mil! Deu saudades da Shadow VT 600 e da Yamaha XV 535 Virago? Não se preocupe: acelere a Vulcan 650 S que as lembranças desses modelos do passado serão esquecidas ? a nova Kawa tem as virtudes das veteranas e mais algumas. Vamos a elas.
Pilotagem sem esforço
Subir na moto é molezinha: são apenas 70cm de altura do banco ao solo, o que favorece pilotos e pilotas de baixa estatura. Você tira a moto do descanso com uma leve rebolada e logo nota que o peso de 228kg não parece estar ali. Primeira engatada no câmbio macio como o de uma CG Titan e vamos saracoteando por entre os carros no pesado trânsito urbano de um dia útil comum. A Vulcan é versátil: passa bem por espaços esguios e seus retrovisores, embora altos (mas eficientes em sua função), não conflitam muito com os dos automóveis.
É preciso cambiar: o motor é girador, mas preguiçoso em baixos giros. A partir de rotações médias já fica desinibido e proporciona mais prazer e emoção. Troco de marcha com boa frequência para mantê-lo cheio, o que não chega a ser um sacrifício ? assim como o câmbio, a embreagem é leve e não exige esforços.
Atenção deve ser dada aos freios. A moto para em distâncias seguras e temos ABS, mas o disco traseiro é meio borrachudo (pode ser coisa da unidade avaliada e não algo padrão). Nas curvas, deite o cabelo: o comprimento e o entre-eixos curtos proporcionam ótimas trajetórias sem dar sustos ou comprometer a segurança. Aqui, dá para esquecer a ideia preconcebida de que motos custom não fazem curvas.
A posição de pilotagem bem merecia alguns ajustes. É até confortável no conjunto da obra, mas o guidom poderia ser mais aberto e as pedaleiras, um tanto mais avançadas. Ali atrás, a patroa considerou a posição e a altura das pedaleiras adequadas, mas disse que o banco deveria ser mais largo. Fato tão verdadeiro quanto a regra quase unânime de que bancos de garupa em motos custom sempre são estreitos demais. Porque será? A suspensão traseira também foi elogiada: não lhe impactou a coluna.
Nos trechos abertos e nas estradas, a Vulcan 650 S desliza serena e, trabalhando nas faixas ideais de giros, responde bem. A velocidade de cruzeiro ideal é de 110 a 120km/h. Abaixo disso, há tédio com o nível de ruído é baixíssimo. Acima, surgem uma vibração chata e um incômodo aerodinâmico.
Baixo consumo
O painelzinho minimalista é simples e prático de operar, mas a área digital fica difícil de ler em dias muito claros. À noite, é bacana. Na hora de abastecer, a Vulcan 650 S mostrou outra vantagem dos motores bicilíndricos de dimensões enxutas: fez 21km/l em trecho predominantemente urbano, sob tocada civilizada.
No geral, temos uma moto comportada, mas ágil e leve na cidade e prática nas viagens curtas e médias. Não espere status e ostentação, mas eficiência, confiabilidade e baixos custos. Será preciso investir em acessórios, como um encosto de garupa. Nada que não dê prazer a quem curte degustar uma custom, independentemente do tempero.
FICHA TÈCNICA
Kawasaki vulcan 650 S
Preço: de R$ 27.290 a R$ 31.490 (com ABS)
Origem: Brasil
Motor: a gasolina, dois cilindros em linha, oito válvulas, refrigerado a água, 649cm³, potência de 61cv (a 7.500rpm) e torque de 6,4kgfm a (6.600rpm)
Transmissão: câmbio de seis marchas com secundária por corrente
Suspensões: dianteira com garfos telescópicos e traseira monochoque lateral
Freios: a disco
Pneus: 120/70 R18 na frente e 160/70 R17 atrás
Dimensões: comprimento de 2,31m, largura de 88cm, altura de 1,10m, entre-eixos de 1,57m, altura mínima do solo de 13cm e altura do assento de 70,5cm
Peso: 228 quilos
Desempenho: não divulgado
Consumo: 21km/l