RIO ? A jornalista americana Noor Tagouri, de 22 anos, ganhou destaque na imprensa local no ano passado, ao se tornar a primeira repórter a aparecer na televisão comercial vestindo um hijab. De origem turca, a jovem nasceu em Virgínia Ocidental, e era considerada um símbolo da comunidade islâmica por representar a minoria na grande mídia. Agora, ela causa polêmica por posar, usando o traje típico usado das mulheres muçulmanas, na edição de outubro ?Playboy?.
Desde o ano passado, a ?Playboy? americana não publica mais fotos de mulheres nuas. Sem conseguir concorrer com a pornografia na internet, a publicação tenta se reinventar, com reportagens sobre comportamento. No caso de Noor, ela foi escolhida como uma das personagens para ilustrar a série ?Renegados?, que mostra ?oito homens e mulheres não convencionais que não têm medo de quebrar as regras?.
A reportagem traz fotos de Noor, vestindo o hijab com um casaco de couro e calça comprida, num cenário com um grafite da bandeira americana ao fundo. Na entrevista, ela conta sobre o plano de se tornar a primeira âncora de telejornal a vestir o traje muçulmano e o preconceito vivido pela população islâmica nos EUA, que é tratada pelo esteriótipo de terrorista.
A exposição do símbolo sagrado em uma revista que tem o passado ligado à exploração do corpo feminino levantou o debate sobre os limites da exposição pública do Islã.
?Quais espaços culturais e políticos são puros o suficiente para os muçulmanos representarem suas visões? Clubes de comédia? A Casa Branca??, escreveu Ingrid Mattson, acadêmica e ex-presidente da Sociedade Islâmica da América do Norte, em sua conta no Twitter. ?Existem preocupações legítimas sobre a questão do espaço. Enquanto isso, vamos dar o benefício da dúvida e depois discutir?.
Como esperado, as redes sociais enlouqueceram ao unir o hijab, traje ligado à religião Islâmica, e a lendária revista ?Playboy? na mesma frase. Enquanto uns apoiaram Noor, por colocar a comunidade muçulmana no seio da cultura popular americana, outros consideraram a atitude um desrespeito religioso.
?Você falhou em promover o hijab e o Islã. Em vez disso, promoveu a ?Playboy? para a comunidade muçulmana, especialmente os adolescentes?, criticou uma internauta, na página da jornalista no Facebook. ?Você tinha boas intenções, mas escolheu a direção errada?.
Outros foram mais duros e chamaram a jovem jornalista de prostituta e aproveitadora. Feministas apoiaram a mensagem de liberdade religiosa, mas lamentaram que o caminho escolhido foi uma revista que é praticamente sinônimo de objetificação da mulher.
Na ?Slate Magazine?, o jornalista muçulmano Aymann Ismail, fez uma defesa da atitude de Noor, sobretudo pelo ambiente político atual, onde a islamofobia foi colocada no centro do debate eleitoral entre Hillary Clinton e Donald Trump.
?Para as mulheres muçulmanas que escolher vestir o hijab, a apresentação para fora da sua fé as torna vulneráveis nesse debate cada vez mais polarizado e politizado sobre os direitos das mulheres?, escreveu Ismail. ?É por isso que quando alguém como Noor Tgouri fala e enfrenta este novo terreno como um indivíduo, ela merece apoio total de toda a comunidade muçulmana?.