BRASÍLIA e SÃO PAULO – A delação dos ex-executivos da Obebrecht vai atingir quase um terço do primeiro escalão do governo Michel Temer, o que deve agravar a crise política na Esplanada. O peemedebista já determinou, porém, que seus ministros só deixarão o governo caso sejam tornados réus em ações penais. Nove deles são alvo de pedido de abertura de inquérito junto ao Supremo Tribunal Federal por conta dos depoimentos dos colaboradores da empreiteira.
Na terça-feira, o jornal ?Valor Econômico? revelou que entre os nove ministros estaria o titular da Agricultura, Blairo Maggi. A informação foi confirmada pelo GLOBO. Além dele, estão na lista de pedidos de inquérito do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria-Geral), Aloysio Nunes (Relações Exteriores), Bruno Araújo (Cidades), Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia), e Marcos Pereira (Desenvolvimento). Outros dois ministros também estão na lista, mas os nomes deles ainda não foram divulgados.
Na terça-feira, em viagem ao Paraná, onde foi inspecionar o frigorífico alvo de outra operação da PF, o ministro da Agricultura negou que tenha sido beneficiado pela Odebrecht.
? A chance de estar nesse negócio é zero. Não tem a mínima chance. Nunca tive negócio com esses caras. Minha única relação com eles (Odebrecht) foi pagar pedágio na rodovia que eles construíram. Para mim, seria ótimo se tirasse o sigilo. Tão certo que não tem nada como amanhã é outro dia ? afirmou o ministro ao GLOBO.
TUCANOS NEGAM
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que também figura entre os governadores que a PGR quer investigar por causa da delação da Odebrecht, disse que suas campanhas eleitorais foram feitas com ?rigor ético? e que leva uma vida pública ?modesta? há mais de 40 anos. Ele garantiu que não recebeu doações de caixa 2.
? Essas informações não são oficiais. Sempre fizemos as campanhas eleitorais com rigor ético e legalidade ? afirmou o governador, ao ser questionado sobre a investigação. ? São 40 anos de vida pública e pessoal modesta. Isso foi desde a vez em que fui prefeito da minha cidade natal, Pindamonhangaba.
Ao ser questionado se poderia garantir que em sua campanha não houve caixa 2, Alckmin foi direto:
? Claro, óbvio.
Já o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, se esquivou ao ser questionado sobre a possibilidade de punição partidária aos dois ministros tucanos que estão na ?lista Janot?.
? Esta é uma questão afeita ao presidente da República. Ele saberá como resolver da melhor forma.
Ontem, o GLOBO revelou que o ex-diretor da Odebrecht Cláudio Melo disse em depoimento que Moreira Franco fez pedidos de dinheiro em reuniões na Secretaria de Aviação Civil, cargo que o peemedebista ocupou no governo Dilma Rousseff. Chefe do lobby da Odebrecht em Brasília, Melo teria transmitido o pedido imediatamente ao superior hierárquico Benedicto Junior, o segundo homem mais importante na Odebrecht, naquele período.
?Transmiti essa demanda a Benedicto Junior, já que, evidentemente, um pedido de ministro para realizar um pagamento de dinheiro poderia nos trazer prejuízos em caso de não atendimento ou, ainda, vantagens em caso de atendimento. O fato é que pagamentos ocorreram em razão de um pedido feito por um ministro de Estado em ambiente institucional e por ocasião de uma reunião de trabalho?, relatou o executivo.
INTERESSE NO GALEÃO
No mesmo encontro do pedido de dinheiro, Moreira e o executivo trataram dos interesses da empreiteira, especialmente no Galeão. Mais tarde, Moreira foi substituído por Padilha no cargo, mas os negócios foram mantidos. ?Algumas vezes fui cobrado por Eliseu Padilha a respeito do pagamento que havia sido solicitado por Moreira Franco. Novamente transmiti a Benedicto Junior o pedido. Ficou clara a existência de correlação entre a quantia em dinheiro almejada e o cargo de ministro de Estado ocupado pelas duas pessoas que, em momentos distintos, fizeram o mesmo pedido?, afirmou o ex-executivo.
Moreira Franco disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que já contratou advogado e ?prestará todos os esclarecimentos na esfera judicial tranquilamente?. Padilha não retornou o recado deixado com uma de suas secretárias.
Janot pediu só no Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de investigação contra 83 deputados, ministros e senadores. O procurador também sugeriu investigações contra mais de dez governadores e outras autoridades. Entre os políticos a serem investigados estão os os ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, os senadores Aécio Neves e José Serra.