RIO – Quatro pessoas foram presas nesta terça-feira na Operação Leite Compen$ado, desencadeada pelo Ministério Público
do Rio Grande do Sul nas cidades de Nova Araçá, Casca, Marau, Estrela e
Travesseiro. As investigações revelaram que indústrias de laticínios
comercializavam leite impróprio para o consumo humano. Entre outras alterações
nos produtos, as indústrias adicionavam soda cáustica ao leite vencido para
?rejuvenescer?. Foram cumpridos cinco mandados de prisão e quatro de busca e
apreensão. As buscas foram realizadas na Indústria de Laticínios Rancho Belo
Ltda, Laticínios Modena e Laticínios C&P e também na
Transportadora AC Tressoldi
.
Foram presos Claudionor Mognon e
Henrique Alessi Pasini, que são funcionários da Laticínios Modena (nome fantasia Bonilé), bem como Eduardo Grave, proprietário da
Indústria de Laticínios Rancho Belo, e o transportador Evandro Luis Kafer.
Flávio Mezzomo, da
Laticínios Princesul,
foi orientado a não se apresentar ao MP e é considerado foragido.
A investigação foi realizada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao
Crime Organizado (Gaeco)
Segurança Alimentar, através dos promotores de Justiça Mauro Rockenbach e Alcindo Luz Bastos da Silva Filho,
com participação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa),
Receita Estadual e Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam).
Também foram realizadas buscas nas três indústrias, nas cidades de Nova
Araçá, Casca e Travesseiro. A planta da Rancho Belo (que fabrica leite UHT
integral envazado pela marca dos supermercados Dia%, além de leite, queijo e
creme de leite da marca Rancho Belo) teve as atividades suspensas pela Fepam em virtude de irregularidades na Licença de
Operação e inadequação de descarte de resíduos, entre outros. A previsão é que
mais de 40 pessoas deem depoimento até o final da semana que vem, quando o MP
deve apresentar a denúncia à Justiça da Comarca de Arroio do Meio.
Os promotores Mauro Rockenbach e
Alcindo Luz Bastos da Silva Filho disseram que a ação é resultado de
investigações que se aprofundaram a partir de outubro do ano passado.
? Uma organização criminosa se instalou na região para fraudar o produto,
especialmente na recuperação de leite já impróprio para consumo?, afirmou Rockenbach. Por sua vez, Alcindo Bastos informou
que, na Princesul,
foram localizadas 5 toneladas de queijo que haviam sido devolvidos por um
laticínio de Maceió. ?Os queijos estavam vencidos, impróprios, totalmente sem
padrão, e a devolução de produto era algo comum, já que a própria rede Dia%
devolveu muitas cargas em virtude de problemas com embalagem ou azedos, mesmo
dentro da validade ? , disse o promotor
Conforme as investigações, foi descoberto crime organizado e de
comercialização de produto lácteo impróprio para consumo humano (pela nocividade
ou pela redução do valor nutricional) envolvendo as empresas investigadas. Dois
dos alvos de prisão preventiva já haviam sido denunciados em outras operações do
MP, daquela vez por sonegação fiscal milionária. Na prática, os três laticínios
recebem e repassam entre si leite cru, creme de leite e soro de creme fora dos
padrões previstos pela legislação brasileira. Muitas das cargas chegam a ser
refugadas por outras empresas e acabam sendo comercializadas para estas
indústrias. Alguns elementos da investigação apontam que carregamentos de leite
que só poderia ter como destino a alimentação de animais foram usados para a
industrialização de produtos de consumo humano.