Cotidiano

Imóveis públicos para revitalizar o Centro

As intervenções no Centro do Rio apontam para um novo sentido no desenvolvimento urbano. Museus, VLT e a efetiva integração do mar à paisagem ? permitida pela derrubada da Perimetral ? ampliam horizontes no sentido literal e figurado. Mas tanto investimento deve trazer benefícios para a cidade muito além do período dos Jogos Olímpicos. A revitalização precisa ser um projeto sustentável, que dê significado ao termo legado.

Sendo assim, não é bem-vinda a decisão de vender imóveis do governo do estado por meio do Rioprevidência, conforme destacou Washington Fajardo no artigo ?Vender inteligência?, publicado no GLOBO de sábado, 11 de junho. O arquiteto e urbanista afirma que melhor que o ganho econômico momentâneo ? questionável em tempo de baixa no mercado imobiliário ? é usar os prédios para atrair moradores ao Centro do Rio, oferecendo aluguel e opção de compra a valores simbólicos, com a condição de que o uso residencial seja mantido. ?É necessário que prefeitura e estado constituam um parque de moradias no Centro, onde possam também alugar, para diferentes faixas sociais, das mais carentes até categorias específicas?, diz ele.

Outros arquitetos e urbanistas não se cansam de alertar que a expansão em direção à Zona Oeste é opção equivocada, visto que a extensão da infraestrutura a regiões distantes onera o poder público ? sufocado ao limite pela dramática crise fiscal. Melhor é aproveitar ? e recuperar ? sistemas de transporte, água, esgoto e iluminação já implantados nas regiões centrais, cheias de propriedades abandonadas ou vazias que poderiam servir de moradia, aliviando o déficit habitacional da cidade.

Olhar para o Centro como área consolidada, sem perspectiva de mudança, revela miopia e só atende a interesses apenas rodoviaristas e do mercado imobiliário. A capacidade da região de receber moradias ? não só em prédios públicos ? vai muito além do que se imagina num olhar superficial. Estudo do Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ concluiu que 150 mil novos domicílios poderiam ser instalados em glebas vazias e galpões ociosos e abandonados da região, como ressaltou o arquiteto Sérgio Magalhães em artigo no GLOBO em 21 de maio. Isso sem contar o Porto Maravilha.

O futuro da cidade, portanto, não depende apenas de obras monumentais. O Centro precisa de moradores que cobrem das autoridades sua preservação, atraiam comércio e gerem movimento. Sem isso, falar em revitalização será apenas retórica.