SÃO PAULO. A Justiça realiza nesta segunda-feira o leilão de imóveis do doleiro Alberto Youssef que foram confiscados pela Justiça. No total, os lances somam R$ 6,9 milhões. No Rio, estão sendo leiloados cinco imóveis do Campo de São Cristóvão, avaliados em R$ 3 milhões – um sobrado e cinco terrenos.
Em Salvador, estão em leilão por R$ 3,9 milhões cotas equivalentes a 37,23% do Web Hotel Salvador, divididos em nove lotes – oito lotes de R$ 418.194,06 e um de R$ 546.788,77.
O leilão está sendo feito pela internet. Sem interessados do primeiro, o valor caiu para 80% da avaliação inicial. Caso não sejam feitos lances, o preço será reduzido para 50%.
Condenado a 122 anos e dois meses de prisão em nove ações da Operação Lava-Jato, o doleiro Alberto Youssef já tem data para sair da prisão: 17 de novembro próximo. Graças à qualidade das informações prestadas à força-tarefa, o doleiro vai cumprir quatro meses a menos da pena mínima prevista no acordo de colaboração premiada, inicialmente de três anos. Youssef foi preso no dia 17 de março de 2014 num hotel em São Luís, no Maranhão. Momentos antes, havia entregado R$ 1,4 milhão em propina da empreiteira UTC a um emissário de João Abreu, secretário da Casa Civil de Roseana Sarney.
Youssef é personagem chave na Lava-Jato. Despontou como o principal dos quatro doleiros alvos da operação que levou ao esquema de corrupção na Petrobras. Em 2013, havia pago R$ 250 mil por uma Range Rover Evoque, faturada em nome do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.
Pelas mãos do doleiro passavam as propinas repassadas ao PP, que recebia valores da diretoria de Abastecimento comandada por Costa. O esquema incluia várias empresas de fachada, como a construtora Rigidez e a MO Consultoria. Ao depor, Youssef contou que outras áreas da estatal tinham também seus operadores, como Fernando Soares, o Baiano, operador do PMDB que atuava na área internacional, e João Vaccari Neto, do ex-tesoureiro do PT, na diretoria de Serviços. Até agora, apenas o esquema atrelado ao PMDB não foi totalmente elucidado.
Num de seus primeiros depoimentos à Justiça, Youssef afirmou que a posse de Paulo Roberto Costa na diretoria de Abastecimento da Petrobras foi precedida de pressão política, com parlamentares trancando a pauta do Congresso por 90 dias.
Youssef nasceu em Londrina, no Norte do Paraná. Fez carreira como contrabandista de produtos trazidos do Paraguai e, mais tarde, se tornou doleiro. Flagrado no caso Banestado, que envolveu remessas de mais de US$ 130 bilhões ao exterior, fechou acordo de delação premiada e ajudou a identificar os dono do dinheiro. Na Lava-Jato, fez o mesmo ajudando a decifrar a divisão da propina espalhada por todos os negócios da Petrobras.
Quando o doleiro anunciou o acordo, o advogado dele, Antonio Figueiredo Basto, afirmou que a delação seria ” um fato histórico” e ajudaria a “desvendar um dos maiores escândalos do país”, atingindo também os políticos que estavam por trás da corrupção.
O doleiro sempre se defendeu dizendo que não foi ele o criador do esquema de corrupção, pois funcionava apenas como “parte da engrenagem”. Foi ele quem apresentou a figura do “operador do esquema”, assim como Marcos Valério, o operador do mensalão.
A pena de mais de 37 anos de prisão de Marcos Valério serviu para incentivar Youssef a falar tudo o que sabia sobre o esquema.
Basto costuma lembrar que, no mensalão, as penas dos políticos foi bem menor do que a do publicitário Marcos Valério e que eles saíram da cadeia muito mais rápido. Valério foi condenado em 2012 e cumpre pena desde novembro de 2013 na penitencária Nelson Hungria, em Contagem, Minas Gerais. Youssef deve ficar, no total, 989 dias na cadeia.
Além do acordo de delação assinado com a Justiça brasileira, Youssef espera firmar cooperação também com a Justiça americana e, quem sabe, ganhar green card para morar nos Estados Unidos.