Cotidiano

Hospital Regional pode ser o "grande golpe" do oeste

Toledo – Um gigante de 8.875 metros quadrados fechado, mais de R$ 30 milhões imobilizados e um futuro fadado ao fracasso. “Guardado” por um servidor público municipal, o prédio não usado começa a ceder à ação do tempo, com pastilhas de revestimentos já caídas. Mas o que levou o Hospital Regional de Toledo, projeto e ansiado por quase três décadas, tornar-se um dos maiores elefantes brancos da região oeste do Paraná?

Para Toledo, abrir o Regional é uma questão de honra. Para a região, a palavra que define é preocupação. O abandono do Governo Beto Richa e a falta de força de líderes locais foram essenciais para um desfecho trágico. Cerca de R$ 20 milhões foram gastos para erguer o prédio e outros R$ 10 milhões estão encaixotados, enquanto outros nem sequer foram entregues.

A esperança de melhoria na saúde pública regional sempre foi moeda de barganha em palanque eleitoral. Desde seu projeto, da década de 1990, até o início da obra, uma década depois. E agora, em ano de eleição, surge uma nova tentativa de abrir as portas do Hospital Regional, mesmo que de maneira precária: não atenderá alta complexidade e os 88 leitos mais os dez de Unidade de Terapia Intensiva serão usados como retaguarda, uma espécie de postão de saúde.

A esperança agora é que a Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) assuma o hospital. Para isso, será preciso ainda uma adequação que custará cerca de R$ 14 milhões e a contratação de 500 servidores para manter os serviços 24 horas. Mas quem vai pagar a despesa mensal estimada em R$ 3 milhões e garantir as licenças e os credenciamentos necessários ainda ninguém sabe.

Problema antigo

Quando o projeto ficou pronto, em 2002, o complexo possuía a competência técnica para atender com qualidade e eficiência a região. Readequado em 2010, ele mostra inconformidades graves.

Em 2014, um documento assinado pelo já secretário da Saúde do Governo Beto Richa, Michele Caputo Neto, manifestava a intenção do Estado em assumir a gestão do Hospital Regional, mas a tratativa nunca saiu do campo da intenção.

Depois disso, o governo assumiu a gestão de diversos hospitais no Estado, e Toledo ficou na gaveta. A aprovação do curso de Medicina trouxe nova esperança para a obra e os olhos se voltaram para a UFPR (Universidade Federal do Paraná). O projeto precisaria ser readaptado, mas novamente tudo parou.

Última chance

Depois de muita negociação, o Ministério da Saúde, por meio de convênio administrado pela Ebserh, fechou questão para a abertura do Hospital Regional. O anúncio deve ser feito nesta semana.

Segundo o que a reportagem apurou, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, assumiu os riscos de pedir o convênio entre o Ministério da Saúde e o governo do Estado, com administração da Ebserh, numa tentativa de garantir a participação do Estado no processo.

Golpe regional

A reportagem do Jornal O Paraná conversou com várias pessoas envolvidas desde a elaboração do projeto até a construção da obra e as tratativas para fazê-la funcionar. Todos questionam o resultado do trabalho. Isso porque a expectativa sempre foi que o hospital atendesse alta complexidade, o que está longe de acontecer.

Claro que todo esforço na saúde deve ser reconhecido como mais um passo para melhorar a qualidade de vida da população local, mas o gigante abandonado deveria atender os pacientes graves que esperam por atendimento especializado. Para a maioria das fontes consultadas, a entrega da obra agora será um grande golpe para a região.

Isso porque, apesar da importância e do significativo investimento, a obra sempre serviu apenas como bandeira política.

nenhum debate técnico sobre seu impacto e gestão foi feito e a decisão de abrir as portas sem atender a alta complexidade novamente coincide mais uma vez com o pleito eleitoral de outubro.

Hospital de Retaguarda

secretário de Saúde de Toledo, Thiago Stefanello, afirma que muita coisa vai mudar para os pacientes que ficam na Unidade de Pronto-Atendimento por vários dias. “Terão leito no Hospital Regional evitando complicações e evoluções que leve para uma situação de UTI”, adianta.

Questionado sobre a verdadeira vocação e missão do projeto original, Thiago afirma que nenhum hospital regional da região cumpre as metas firmadas em contrato. “Se o fizessem, já teriam mudado o cenário de toda a região oeste”, argumenta.

Zero x Zero

Os técnicos ouvidos pela reportagem afirmam que o Hospital Regional possui um porte muito difícil de se administrar. Segundo eles, hospitais com menos de cem leitos são praticamente insustentáveis. Hoje já se defende que as estruturas com sucesso de gestão possuam de 100 até 200 leitos. Mais que isso também é inviável.

O atendimento de alta complexidade é requisito para garantir a viabilidade financeira, pois é a mais bem remunerada pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Operando apenas com baixa complexidade, segundo os técnicos, o hospital gasta muito e recebe pouco.

Outro dado que depõe contra a decisão de não atender alta complexidade é que a maior necessidade da região é exatamente por esse tipo de serviço. A baixa e a média complexidade são ofertadas por quase todas as cidades de médio porte, ou seja, o Hospital Regional vai ofertar mais do mesmo só que com um alto custo.

Reportagem: Edna Nunes