Cotidiano

Homenagem em dois Tons

RIO – Se estivesse vivo, Tom Jobim faria 90 anos nesta quarta-feira (25) e poderia, além de assoprar as velinhas, decidir como deveria ser lembrado pela posteridade em uma estátua: aos 33 anos com o violão nas costas ou sessentão tocando piano. Um movimento de admiradores do maestro reivindica a troca da escultura que o homenageia, obra da artista Christina Motta, inaugurada em 8 de dezembro de 2014, no Arpoador. A proposta é o lançamento de um outro monumento, agora com Tom ao piano e já envelhecido, sobre um deque, na orla de Ipanema, na altura da Rua Vinícius de Moraes.

? A palavra chave da estátua é representatividade. O que interessa é ter ali a biografia. Agora, na hora de informar as pessoas, deve mostrar a cara definitiva do Tom. É a cara que a sua existência completa lhe deu. É a cara da sua obra completa. A estátua que ali está (no Arpoador) é completamente equivocada ?opina Carlos Alberto Afonso, que se apresenta como um dos líderes do movimento que começou com um abaixo-assinado favorável à mudança.

Carlos Alberto é dono da Toca do Vinícius, a mais tradicional loja sobre bossa nova no Rio. O acervo, quase um museu, traz LPs, DVDs, livros, fotografias e até placas com a calçada da fama de Ipanema. Em datas festivas, Carlos Alberto organiza shows e debates na calçada.

? A reunião para lançar essa estátua foi na Toca do Vinícius, com o (então) secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Julio Bueno, e o (então) secretário municipal de Turismo, Antonio Pedro (Figueira de Melo). Apresentei um cem número de scanners com imagens pesadas e pensadas do Tom Jobim. A minha favorita é uma foto da própria esposa dele, Ana Jobim. Aquilo pra mim é o Tom. Está vivo naquela foto.

O problema, segundo Carlos Alberto, é que Antonio Pedro gostou de uma foto na parede e pediu uma cópia.

? Nunca pensei que aquela foto (feita em Brasília) estivesse na cabeça dele para fazer a estátua do Tom. O Tom ali tinha 33 anos, a metade do tempo que ele tinha ao morrer. É a cara de um pedaço da vida do Tom ? argumenta o empresário e professor

Carlos Alberto entregou a cópia, que mostra Tom e Vinícius, no Catetinho, em 1960. Acompanhou os preparativos para a confecção da estátua e a encomenda feita à escultora Christina Motta.

? O secretário de Turismo foi corretíssimo. Me consultou até o final. Só não fez a consulta mais decisiva, com a qual não me preocupei. Só vi (a estátua) no dia que ficou pronta. Eu me desesperei e disse assim: ?Antonio Pedro, esse momento é de Brasília. Esta imagem é altamente representativa da alvorada de Brasília. O Tom estava lá para compor a ?Sinfonia da Alvorada?, a convite do presidente Juscelino Kubitschek? ? observa.

MUDANÇA

O movimento para a mudança, segundo Carlos Alberto, está apenas no início, restrito a um abaixo-assinado aberto em sua loja, em Ipanema, e a uma carta nas redes sociais.

? Já somos uns 70, 80. Na Associação Amigos da Bossa Nova já temos mais do que isso. É uma mobilização lenta, mas com toda a certeza vai ganhando velocidade agora, quando temos uma nova gestão municipal e com possibilidade de um novo diálogo. Terminado o verão, vamos procurar a autoridade pública e tentar sensibilizar, naturalmente, as pessoas envolvidas nisso ? acrescenta o estudioso da bossa nova, que vai priorizar o contato com os herdeiros do maestro.

? O Tom precisa vir aqui para o Posto 9, em frente à velha Montenegro, atual Rua Vinícius de Moraes, porque foi nesta pista que ele decolou para a notoriedade. Claro que Tom tocava violão, trombone, saxofone, flauta… O Tom era um maestro genial. Até um esquimó sabe que Tom era um sessentão, tocava piano e era de Ipanema.

O caminho para o sucesso na empreitada, diz o professor, é um acordo com o Governo de Brasília.

? A estátua que está no Arpoador é ouro sobre azul no Museu do Catetinho. Já temos, inclusive, adesões a esta ideia em Brasília. Quem sabe Brasília topa e banca uma escultura aqui do Tom com o piano, no Posto 9, num dequezinho, como deve ser… ? sonha Carlos Alberto.