RIO – O sírio Muhammad Wisam Sankari se refugiou em Aksaray, na Turquia, há cerca de um ano, para fugir da guerra civil em seu país. Mas a distância das bombas e do terror do Estado Islâmico não o livrou de uma morte horrível. Seu corpo foi encontrado mutilado e decapitado na cidade de Yenkapi, no último dia 25 de julho. Amigos que moravam com ele garantem que o crime teve motivações homofóbicas.
Segundo os amigos da vítima, Sankari vinha sendo alvo de ameaças e violência de gangues de criminosos. Há cerca de cinco meses, ele foi sequestrado, espancado e estuprado por vários agressores. De acordo com a organização de direitos civis gays Kaos GL, o sírio estava tentando se mudar para outro país, afim de escapar do perigo. Os amigos de Sankari relataram o drama dele à polícia, mas nada aconteceu.
A página da Kaos GL na internet publicou um relatório baseado em depoimentos tomados dos amigos da vítima. Uma das testemunhas, o jovem identificado apenas como Rayan, que conheceu Sankari logo depois de ele chegar à Turquia, disse que o sírio tinha dificuldades até para andar pelas ruas de Aksaray, onde grupos de homens com facas fizeram diversas ameaças contra eles, dizendo que queriam estuprá-los.
?Tivemos que mudar de casa porque somos gays. As pessoas encaravam a gente. Há cinco meses atrás, uma gangue sequestrou o Wisam. Eles o levaram para uma floresta, o espancaram e o estupraram. Eles iam matá-lo, mas Wisam saltou do carro na estrada e se salvou. Fizemos queixa na polícia, mas nada aconteceu”.
Outro amigo ouvido pela Kaos GL, Gorkem foi uma das pessoas que identificou o corpo da vítima. Segundo a ONG, ele chorou ao descrever o terror que testemunhou.
?Nós já estávamos nervosos por causa das ameaças. Dissemos a ele para não sair de casa, mas ele disse que ficaria fora por 20 minutos. Mas não voltou. No dia seguinte, entramos em pânico quando não conseguimos encontrá-lo. Fomos para a Associação de Solidariedade com as Pessoas em Busca de Asilo e Migrantes. Eles nos encaminharam para uma central de polícia (…). Dias depois a polícia nos ligou, e fomos a Yenkapi. Eles cortaram o Wisam com tanta violência que duas facas se quebraram dentro dele. Eles o decapitaram. O tronco dele estava irreconhecível, com as vísceras para fora. Nós identificamos nosso amigo pelas calças”.
Diferentemente de outros países do Oriente Médio e Norte da África, ser homossexual não é considerado um crime na Turquia. Mas o preconceito contra gays é um problema sério, e atos de violência contra a comunidade LGBT se espalham por diversas cidades.