RIO ? Ainda não se sabe o quanto a reputação da PricewaterhouseCoopers, ou simplesmente PwC, foi prejudicada após a gafe na cerimônia do Oscar, no domingo. Mas analistas preveem um prognóstico preocupante.
Com uma função normalmente relegada aos bastidores, a empresa abruptamente viu o seu nome no centro do noticiário internacional depois do Oscar.
A empresa é responsável por contabilizar os milhares de votos que determinam os vencedores, e também por entregar os envelopes aos apresentadores que anunciam os resultados. Assim, quando os atores Warren Beatty e Faye Dunaway subiram ao palco com o envelope errado para anunciar a categoria mais importante da noite ? a de melhor filme ?, deu-se início o maior incidente da história da premiação.
“Os auditores tinham apenas um dever: dar o envelope correto ao Warren Beatty. É para isso que essas pessoas recebem tanto dinheiro. Se eles fossem meus auditores, eu os teria demitido”, disparou Leslie Moonves, diretor-executivo da rede CBS, numa entrevista concedida logo após a cerimônia.
A PwC fornece serviços de contabilidade e consultoria fiscal para algumas das maiores corporações do mundo. Seu acordo com clientes gerou US$ 36 bilhões em 2016, um crescimento de 7% relação ao ano interior. Mas a atuação da PwC no setor de entretenimento é considerada pequena (apenas 4,2% daquele valor), e não se sabe detalhes sobre a parceria com Academia. O fato é que, para uma organização que preza pela precisão, ver a sua credibilidade posta em xeque em rede mundial, num enorme evento midiático, pode resultar numa crise financeira.
O auditor que cometeu o erro se chama Brian Cullinan, um sócio da PwC. Ele não apenas cometeu o erro, como também publicou no Twitter, momentos antes, uma foto da atriz Emma Stone nos bastidores do Oscar. Isso levantou a teoria de que a sua interação com as redes sociais possa tê-lo desconcentrado, mas tanto a PwC quanto a Academia ainda estão investigando mais a fundo as causas do incidente ? para só então decidir que providência tomar. A foto de Emma Stone já foi apagada da conta de Cullinan.
Segundo a revista “Hollywood Reporter”, poucos esperam que a Academia rescinda o contrato com a firma, que cuidou do Oscar ao longo de 83 anos. Uma possibilidade é o pagamento de uma multa ou a doação de dinheiro para uma organização de caridade apoiada pela entidade. Tim Ryan, presidente da PwC nos Estados Unidos, disse ao jornal “The New York Times” que uma possível quebra de contrato sequer está nas discussões internas. Nesta segunda-feira, as hastags #envelopegate e #Oscarfail estavam entre as mais usadas no Twitter.
“É, potencialmente, um arranhão na marca deles”, afirmou ao site “Ad Age” Katie Sprehe, diretora de pesquisa de reputação da empresa de consultoria APCO Worldwide. “O Oscar é uma oportunidade pública de a PwC mostrar as suas qualidades enquanto uma marca: a sua precisão, a sua integridade e a sua habilidade de manter informações em segredo.”
Katie lembra que a gafe aconteceu diante de um público muito maior do que os clientes que usam os serviços da empresa. Apesar da audiência baixa em relação a anos anteriores, 34,4 milhões de espectadores assistiram à transmissão ? sem contar os muitos que viram trechos pela internet nos dias seguintes.
Logo após a cerimônia do Oscar, a PwC divulgou um comunicado em que pedia desculpas às equipes de “La la land” e “Moonlight”, e também aos apresentadores Warren Beatty e Faye Dunaway. Ao “Ad Age”, Thomas Fladung, vice-presidente da Hennes Communications, especializada em gerenciamento de crise, disse que a PwC terá que ir além.
“Quando você faz uma bagunça, primeiro faz a admissão e depois conserta o erro”, destaca Fladung, acrescentando que a empresa terá que ser transparente com o público em relação aos motivos que levaram ao incidente e às medidas para que este não ocorra novamente. “Eles precisam ser sinceros. É a ação por trás das palavras que faz você sair de uma situação com a reputação intacta.”