MANILA ? Para celebrar o 31º aniversário da Revolução do Poder Popular, milhares de pessoas foram às ruas nas Filipinas para relembrar os protestos que derrubaram a ditadura de Ferdinand Marcos em fevereiro de 1986 e restabeleceram a democracia no país. Mas neste sábado, os filipinos estiveram divididos, com manifestações contra e a favor do presidente, Rodrigo Duterte, e sua guerra às drogas.
O ex-presidente Benigno Aquino, filho de María Corazón Cojuangco-Aquino, ícone da revolução de 1986, liderou um protesto que reuniu cerca de 3 mil pessoas condenando a atual política de guerra às drogas, que já provocou a morte de cerca de 7.700 pessoas desde que Duterte assumiu a presidência, em junho do ano passado. Os manifestantes acusam o governo de praticar execuções extrajudiciais.
? A luta não acaba se não estivermos prontos para defender nossos direitos ? disse Aquino, à CNN.
No ano passado, Duterte provocou polêmica por ordenar um enterro com honras aos restos mortais de Marcos num cemitério do governo reservado aos heróis nacionais, artistas e personalidades do país. A lei se refere aos homens e mulheres enterrados neste cemitério como pessoas ?dignas de admiração? por gerações de filipinos.
? Os apoiadores de Marcos, por meio de Duterte, estão apagando a memória do povo filipino e padrões morais pelo sepultamento de um ex-ditador como um herói ? disse o advogado de diretos humanos Jesus Falcis, que assinou petição pedindo que a Suprema Corte impedisse a honraria. ? O próprio Duterte está travando uma guerra contra a democracia, não apenas contra os pobres e contra as drogas, com o seu autoritarismo.
A oposição, minoria no cenário político, alerta o risco do retorno do autoritarismo sob o governo de Duterte. Na semana passada, a senadora e principal opositora Leila de Lima, foi presa sob acusações de tráfico de drogas, o que ela considera um ato de vingança.
?Existe um presidente que está ameaçando restaurar a lei marcial e apoia abertamente o assassinato de milhares de pessoas?, disse Leila em mensagem enviada da prisão. ?A verdade sombria: nos últimos sete meses sob Duterte houve mais mortes em comparação aos 14 anos de lei marcial sob o regime de Marcos?.
Mais tarde, apoiadores de Duterte realizaram uma contramanifestação na principal praça de Manila. Com velas nas mãos, cerca de 200 mil pessoas, segundo estimativas da polícia, demonstraram apoio à política de combate às drogas, ao crime, à corrupção e à pobreza.
? Nosso país está se tornando melhor e os criminosos estão sendo pegos ? disse Risa Pedrosa, de 43 anos, que participou da marcha, em entrevista à Reuters. ? Nós devemos apoiar o presidente Duterte de todas as formas e eu espero que Deus lhe dê boa saúde para continuar com todas essas mudanças nas Filipinas.
Um protesto de ativistas de esquerda também marcou a data, com pedidos de que Duterte implementasse ?mudanças genuínas? prometidas durante a campanha, como a retomada das negociações de paz com rebeldes maoistas e a libertação de mais de 400 prisioneiros políticos.
O ex-presidente Fidel Ramos e o ex-senador Juan Ponce Enrile, considerados heróis na revolta contra Marcos, participaram de uma missa na principal base militar de Manila para marcar o aniversário da Revolução, mas Duterte não compareceu.