FORTALEZA ? As doenças hepáticas, mais frequentes, tornam as filas por um fígado muito mais extensas que as do coração. As taxas de mortalidade variam de 14% a 40%.
No serviço de transplante de fígado do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Ceará (UFC), esse índice é de 14%, segundo o médico José Huygens Garcia, coordenador do serviço. Quase cem pessoas estão na fila hoje esperando um fígado, boa parte deles da Região Norte, onde apenas Amazonas e Acre fizeram transplante do órgão no ano passado.
Huygens defende que o transporte aéreo seja incrementado principalmente em duas situações: no caso de hepatites fulminantes e em retransplantes de urgência, quando um primeiro transplante não tem êxito.
? Um órgão em outro estado é recusado de cara por não haver logística. A fila do fígado é a fila da agonia. Só se faz um terço dos transplantes necessários. O Brasil precisa normatizar esse transporte à distância. É difícil encaixar em voos comerciais ? diz o médico da UFC.
MORTE APÓS QUASE 1 ANO DE ESPERA
O corretor de imóveis Francisco Vilmar Cavalcante morreu aos 46 anos, em outubro de 2014, depois de quase um ano na fila do fígado. Ele tinha lúpus e conviveu com a doença por 17 anos. Uma doação surgiu na reta final, os médicos chegaram a tentar a cirurgia, mas sem êxito. Vilmar morreu 15 dias depois. A mulher dele, a professora Aline Maria Cavalcante, de 47 anos, e a filha de 19 ainda moram a poucas quadras do Hospital das Clínicas.
? A espera foi muito angustiante, dolorosa para ele e para a gente. Chegávamos no hospital e víamos as pessoas já transplantadas, ou esperando. Era angustiante. Se um órgão tivesse surgido antes, ele teria tido mais chances de sobrevida. Quando surgiu, fiquei muito feliz e disse a ele: ?Meu filho, seu fígado chegou? ? lembra Aline.