BERLIM ? Comédia de sabor amargo que paga tributo à figura das parteiras, ?Sage femme?, do francês Martin Provost, fez sua estreia nesta terça-feira (14) no pacote de projeções especiais do 67 Festival de Berlim. Protagonizado por Catherine Deneuve e Catherine Frot, o filme gira em torno de uma habilidosa e solitária funcionária de uma maternidade dos subúrbios de Paris que, de repente, é procurada pela da ex-amante de seu pai, falecido recentemente, que desapareceu da vida deles 30 anos atrás, sem deixar vestígios.
Claire (Catherine Frot) ama o seu trabalho, é dona de um talento natural na assistência de partos dos mais simples, aos mais complicados. Mas a meia idade chegou batendo o pé na porta: ao mesmo tempo em que percebe-se obsoleta diante da modernização dos hospitais, cada vez mais voltados para o lucro, é visitada por uma incômoda figura do passado. Esta materializa-se em Béatrice (Catherine Deneuve), grande paixão de seu pai, motivo de destruição da família, que volta a procurá-la sob o pretexto de fazer as pazes.
Mulher extravagante e de espírito livre, Béatrice é oposto da introvertida Claire, inteiramente dedicada ao trabalho na maternidade, à criação do filho adolescente, sem tempo para lidar com o flerte de um motorista de caminhão (Olivier Gourmet) que mora próximo a horta comunitária onde ela cultiva seus legumes. A história de ?Sage femme? foi inspirada em episódio ocorrido com Provost, que foi salvo pela transfusão do sangue da parteira que auxiliou o seu parto, como ocorreu com um dos bebês auxiliados por Claire.
? Mas ?Sage femme? não é autobiográfico ? avisou Provost, autor de filmes como ?Séraphine? (2008), ganhador de sete prêmios Cesar, o Oscar francês. ? O meu caso serviu apenas de pretexto para conhecer melhor essa profissão que sempre me fascinou. A história de Claire surgiu naturalmente desse meu encontro que eu tive com algumas parteiras, com a intenção de entender o que havia acontecido comigo.
O papel de Béatrice foi escrito especialmente para Deneuve, que diz ter se divertido com a experiência de interpretar uma personagem sem responsabilidades com nada e ninguém, que vive a vida um dia por vez, sem pensar nas consequências ou no futuro.
? Ela é uma mulher intensa, mas também muito superficial ? analisa a atriz, que roubou os holofotes da coletiva de imprensa. ? Ela é, ao mesmo tempo, generosa e egoísta. Martin foi bem-sucedido em sua intenção de falar de coisas sérias de maneira leve, não opressiva. O humor do roteiro dilui o drama da história sem afetar a sua emoção.