RIO ? As mulheres estarão no foco da 26ª edição do Festival de Curitiba. E se o maior ícone vivo do teatro brasileiro é justamente uma mulher, Fernanda Montengro, caberá a ela conduzir a abertura do evento, no dia 29 de março, com a sua leitura da peça “Nelson Rodrigues por ele mesmo”, no Teatro Bom Jesus, na capital curitibana.
Para 2017, além da presença de Fernanda, a Mostra principal do festival estará repleta de obras assinadas por atrizes, autoras e diretoras. A ideia dos curadores Guilherme Weber e Marcio Abreu é, de certa forma, vincular as lutas e avanços femininos e feministas no campo social e político com as realizações e ousadias estéticas de um seleto grupo de artistas mulheres.
Ao lado de Fernanda, estarão a sua filha Fernanda Torres, com o solo “A casa dos budas ditosos” (dias 1 e 2/4), além das atrizes Andrea Beltrão, com “Antígona” (dias 5 e 6/4 ), e Débora Lamm com “Mata teu pai” (dias 5 e 6/4). Entre as dietoras, Christiane Jatahy apresenta “E se elas fossem para Moscou?” (dias 29 e 30/3), a atriz Ingrid Guimarães dirige o solo cômico “7 contos” (dias 30 e 31/3), com Luis Miranda, enquanto Denise Stoklos mostra “Palavras gestuais” (dias 31/3 e 1/4), Raquel Castro encena “Nossa senhora [da luz]” (dias 1 e 2/4), Débora Dubois conduz o musical “Roque santeiro” (dias 3 e 4/4), e a autora e diretora baiana Fernanda Júlia apresenta “Macumba: uma gira sobre poder” (dias 3, 4 e 5/4), que reflete sobre o empoderamento da mulher e do homem negro.
A Fernanda Montenegro abre esta edic?a?o em um exercício minimalista, em que a sua voz sobre Nelson Rodrigues nos devolve muito de um Brasil perdidoNo campo da dança e da performance, Curitiba apresenta pela primeira vez uma obra da coreógrafa Lia Rodrigues, “Para que o céu não caia” (dias 4 e 5/4), enquanto Nicole Vanoni e a Curitiba Cia. dançam “Quando os anjos se calam” (dias 8 e 9/4), e a performer portuguesa Vera Mantero põe lado a lado duas criações de sua autoria, “Olympia” e “O que podemos dizer do Pierre” (dias 6 e 7/4).
? A Fernanda Montenegro abre esta edic?a?o em um exercício minimalista, em que a sua voz sobre Nelson nos devolve muito de um Brasil perdido ? dizem os curadores. ? Já a Fernanda Torres traz o discurso erótico liberta?rio da baiana criada por Joa?o Ubaldo Ribeiro (?A casa dos budas…?), e que liberta a todos da condic?a?o machista que se?culos de sociedade patriarcal impuseram ao Brasil. Junto com Nelson, forma um di?ptico sobre a lapidac?a?o dos extremos brasileiros.
Além desta série de criações tomadas pelo universo feminino, a dupla de curadores selecionou obras que buscam fazer da cena teatral um campo de aproximação e fricção com o outro, o diferente. A alteridade imaginada por Abreu e Weber toma como base e ponto de partida um aforismo pinçado do “Manifesto antropófago”, de Oswald de Andrade: “Só me interessa o que não é meu”.
? É este o pensamento que inspira este nosso segundo ano de curadoria no Festival. A Fernanda Montenegro lendo Nelson Rodrigues e? também uma tradução para essa ideia de encontrar o outro em si mesmo ? diz Abreu. ? A nossa ideia, em 2017, é aprofundar um projeto de programac?a?o que atravessa linguagens, busca dia?logos transversais e fricciona questões fundamentais do nosso tempo. A ideia é fazer da cidade um palco de manifestac?a?o de diferenc?as, pensamento e memória.
Animados pela diferença e pelo olhar ao outro, os curadores selecionaram boas propostas. Entre as quais se destacam duas atrações internacionais: de Portugal, o grupo Mala Voadora apresenta ?Moçambique?. Na obra, o autor e diretor Jorge Andrade, nascido em Moçambique mas radicado desde os 4 anos em Portugal, constrói uma autobiografia ficcional em que imagina como seria a sua vida se tivesse continuado a viver no país africano. “Moçambique” da Mala Voadora no Rivoli
Já “Blank”, do iraniano Nassim Soleimampour, será interpretada por um ator diferente a cada sessão, e busca situar cada intérprete em uma dramaturgia criada a partir de experiências de censura, opressa?o e viole?ncia contra artistas. Na versão brasileira estarão em cena Caio Blat, Camila Pitanga, Debora Bloch, Du Moscovis, Gregorio Duvivier e Julia Lemmertz. Também se lançam ao outro a mais recente obra da Cia. Hiato, “Amadores”, cuja dramaturgia é composta a partir de depoimentos autorais de não atores, além da peça “Nós”, do Grupo Galpão, e o projeto ?Protocolo Elefante”, da Cia. Cena 11, em que cada integrante da companhia catarinense foi provocado a criar a partir de um mote: ?ver quem você é para aquele que não é você?.
? Esperamos que os encontros sejam possíveis e que as diferenças convivam, que haja escuta e presença ? dizem os curadores.