RIO ? Fechada desde dezembro de 2016 por falta de verbas, a Biblioteca Parque de
Manguinhos reabriu parcialmente hoje. A Secretária de Estado de Cultura
autorizou uma ocupação para atividades de teatro e dança. No início da tarde,
familiares de alunos do projeto Ballet
Manguinhos, que ensina gratuitamente balé para crianças e adolescentes da
comunidade e desde 2015 usa a biblioteca como residência artística, fizeram um
mutirão de limpeza dos espaços, enquanto turmas faziam aulas de dança.
A biblioteca deverá abrir em seu antigo horário normal de funcionamento, de
terça a quinta, entre 14h e 17h. Segundo Vera Schroeder, coordenadora da
Superintendência da Leitura e do Conhecimento, a ideia é utilizar ?somente a
entrada principal do prédio para um atendimento mínimo à comunidade e ensaio de
grupos artísticos?. Porém, a diretora-geral do Ballet Manguinhos, Daiana Ferreira, negocia um
aproveitamento maior do prédio, com a possibilidade de também usar os livros e o
Cine Teatro Eduardo Coutinho, onde costumam acontecer as apresentações dos
espetáculos do projeto. Uma definição deve ocorrer até sexta.
? Nossos fundamentos desde sempre são dança e leitura ? explica Daiana, que
mantém uma turma de 211 meninos e meninas. ? Nos últimos anos nossa casa foi a
biblioteca: aulas, ensaios, espetáculos… Para nós é importante manter essa
visão de cultura no território. Quando soubemos que a biblioteca fechou, foi
como se tivéssemos perdido nossa própria casa.
O abandono da biblioteca, que além de leitura e acesso à informática oferecia
atividades como sarau de poesia, laboratório editorial e coral para idosos,
preocupa Daiana. No momento, apenas dois seguranças guardam o prédio, que
compõe, junto com a Casa da Mulher e a escola estadual Luiz Carlos da Vila, um
arco de projetos sociais no chamado ?Centro Cívico? de Manguinhos. O medo é que
as instalações sejam invadidas e sucateadas, como aconteceu com a Casa da
Mulher, também fechada em 2016. Por isso a ocupação parcial, que contou com a
ajuda de funcionários e voluntários.
? Vamos ter confronto com a secretária quanto a dias e horários, mas aí já
vamos estar dentro de qualquer forma ? diz Daiana. ? A comunidade vai querer
usar o espaço e aí entra a questão de verem o Ballet Manguinhos lá dentro e outros coletivos e
ter a liberação de uso de livros.
Mãe de uma das alunas do Ballet, a
professora de educação física Ilza Pereira Silva participou da limpeza ? um
forma, segundo ela, ?de lutar pelo único lugar realmente pacificado da
comunidade?.
? Aqui todos conviviam democraticamente ? explica. ? Minha filha é a primeira
bailarina da família. Realizou um sonho de gerações.
Só no ano passado, a Biblioteca-Parque de Manguinhos recebeu um público
de 129.412 pessoas, num local onde a população é de 21.846 habitantes, segundo o
Censo de 2010. O Estado do Rio tem quatro bibliotecas-parque, e apenas a de Niterói voltou a
funcionar depois do recesso de fim de ano, no último dia 30 de dezembro. Mais de
150 funcionários foram desligados, depois que o Instituto de Desenvolvimento e
Gestão (IDG) anunciou que deixaria a administração das unidades ao governo.
Em nota, a SEC esclareceu que continuará com a gestão, embora haja a
possibilidade de contratar um substituto ao IDG para administrar o dia a dia dos
espaços, ?como foi feito recentemente em Niterói, onde o Instituto Tear assumiu
a administração da biblioteca e readmitiu 90% do pessoal que já trabalhava ali e
havia sido dispensado em razão do fim do contrato com o IDG?. ?Retomadas as
atividades, a ideia é dar prosseguimento normal ao trabalho que vem sendo feito
nos últimos anos?.