RIO ? Desde o ano passado, o processo de construção da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) evidenciou a importância de um currículo eficaz na construção de uma educação de qualidade. Com a reforma do ensino médio, o documento ganhou ainda mais destaque. Na opinião dos especialistas que participaram da mesa “Currículo e Avaliação”, a construção da BNCC e a reformulação do ensino médio representam uma chance de ouro para que o Brasil finalmente trilhe um caminho de sucesso no âmbito da educação. O debate aconteceu durante o evento internacional Educação 360, realizado pelos jornais O GLOBO e ?Extra?, em parceria com o Sesc. O seminário, que termina neste sábado na Escola Sesc de Ensino Médio, em Jacarepaguá, tem apoio da Coca-Cola Brasil, da TV Globo e do Canal Futura.
? Os professores estão clamando por estruturação do sistema de ensino. Estão pedindo que a gente possa dar um norte mais claro para eles, que os cursos de formação de professores que temos, infelizmente não estão dando ? afirmou o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Eduardo Deschamps
O educador criticou a postura de parte da população e da comunidade educacional diante da Medida Provisória proposta pelo governo para reformar o ensino médio. Após a apresentação do estudo de caso da Escola Sesc Teófilo Otoni, do Instituto Chapada e da ONG Dream Learn Work, o educador criticou a posição reativa diante da reforma, o que, segundo ele, atravanca a evolução da área.
? Esses três focos apresentados aqui a gente pode trazer para escola pública desde que faça um coisa: pare de criar as polêmicas erradas no âmbito da educação. Olhe para o que está dando certo lá fora, trabalhe com evidências. Essa reforma do ensino médio está sendo discutida pelo Consed desde 2012. O debate está no lugar errado. Estamos discutindo se o projeto deveria ser ou não Medida Provisória. (Além da MP) há Projeto de lei que foi constituído desde 2013 e tem gente dizendo que não tem debate sobre o assunto.
Nesse sentido, os educadores alertaram que é necessário permanecer atento às próximas discussões que ocorrerão sobre o tema e, inclusive, participar de debates ligados diretamente à reforma, como é o caso da BNCC.
? Passamos muitos anos da história do Brasil tomando decisões erradas a respeito de educação. É a última chance de começar a parar de tomar decisões erradas. Estamos no processo de finalmente entrar com uma Base Nacional Comum, que espero que vá na direção correta ? Ilona Becskeházy
No âmbito do ensino médio, entre as principais críticas sobre o sistema do país está a falta de direcionamento na etapa. O hiato deixado pelo currículo das escolas brasileiras é ocupado por algumas iniciativas como da ONG Dream Learn Work, que em parceria com outras entidades seleciona jovens de áreas carentes para auxiliá-los na qualificação profissional. Os alunos selecionados são financiados pela ONG a participar de cursos técnicos de outras instituições como Senai e Senac.
? A ideia é que esteja mais pronto para entrar no mercado e com oportunidades melhores. A gente vê qual seria a trilha educacional do aluno, onde ele vai começar e onde quer chegar. Acreditamos que a formação profissional não é suficiente, então precisamos dar apoio, estimular que o aluno continue para evitar a evasão ? explicou Ana Luiza Carbonni, gerente geral da Dream Learn Work.
Há instituições que já caminham na direção apontada por educadores. No caso do Colégio Sesc Teófilo Otoni, em Minas Gerais, os alunos do ensino médio têm educação em tempo integral e matérias diversificadas. Entre os componentes do currículo, estão disciplinas de empreendedorismo, além de oficinas de dança, aulas de música, teatro e pintura, entre outras. A avaliação também é feita de uma maneira ampla, não ficando restrita somente a provas conteudistas.
Avaliação foi justamente o que permitiu que Janaina Barros, do Instituto Chapada, promover uma mudança radical no Ideb da escola Professora Ivani Oliveira, na Bahia. Após perceber que só 40% dos alunos tinha aprendizado adequado, Janaina iniciou um processo minucioso que confrontou as provas feitas pelos professores com o conteúdo ministrado em sala de aula e o que os alunos registravam em seus cadernos. Identificou então desconexão entre avaliação e currículo e utiliza a experiência para impulsionar a formação de professores no município de Seabra.
? Tive cuidado em ver como os meus professores aprendiam, e eles também foram vendo como os alunos estavam aprendendo e a partir daí fomos aprendendo juntos a fazer avaliação ? disse Janaina.